Queda

Queda

No dia primeiro de maio completará cinco anos do falecimento de meu pai, que passou nove anos desacordado, como o drama do piloto Schumacher que está em coma desde 2013, ainda lembro dele consciente após a primeira queda, o ponto da queda, na cabeça parecia um ovo mole e amassado no couro cabeludo, sensível demais para ser explorado mais profundamente. Quando ele estava no Hospital Espanhol, lembro que eu ia até a janela do quarto, para encarar a monótona vista do estacionamento do hospital, pensando como a vida é efêmera, ele sempre arrumado para as audiências que até sentia o cheiro do sabão em pó de sua camisa recém-levada.

Sinto um sentimento de injustiça com um homem tão nobre, talvez; uma pontada de raiva pelos artifícios no destino o enrolou. O acaso visita algumas pessoas em uma precipitação violenta, como uma tempestade elétrica. Com a queda, após ir à cozinha beber água. A tempestade se insinuou aos poucos, a cada passo que deu indo e voltando pelo corredor, insidiosamente, como uma bruma se adensando. Quando a bruma se tornou densa o bastante, ela provocou a queda, e tudo mudou, o mundo acabou para a vida de meu pai em 01.05.2018.

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