Que a graça nos faça ser!

“Eu, porém, confio em teu amor; o meu coração exulta em tua salvação. Quero cantar ao Senhor pelo bem que me tem feito.” (Salmos 13.5-6)

De quem são estas palavras? De um homem vivendo seu melhor momento? De um homem cuja semana foi coroada de sucesso? Alguém para quem a vida está sendo generosa e tudo acontece confirmando o bom momento? Uma leitura desse pequeno salmo revela que não. Estas são palavras de alguém que se sente perdido e em angústia. Alguém que se sente quase que totalmente superado pelos inimigos e que não vê por onde escapar. Este salmo foi escrito por Davi e o momento em que o fez parece ter sido bastante difícil. Ele estava se sentindo abandonado por Deus e deixou tudo isso à mostra em seu salmo. Ele estava aflito e parte da aflição era causada por Deus, que estava em silêncio. Para Davi, Deus estava atrasado. Mas seu desespero se transforma em esperança, seu ressentimento em gratidão. Seu lamento é superado pelo louvor. Coisas da graça de Deus.

A leitura dos Salmos nos abre espaço para sermos nós mesmos. Neles encontramos gente como nós, que se desequilibra, se cansa e vive perdas de esperança. Os salmos nos revelam crentes que duvidam, adoradores que se decepcionam com Deus e quase desistem de cantar. É tudo bem humano, mas não sem o toque da graça amorosa de Deus que repentinamente muda o cenário. Graça que, em meio ao turbilhão de desespero e dúvidas sustenta uma certeza improvável. Davi não é o único, há outros. Há Jó, Habacuque, Jeremias, Isaias e a lista é sem fim. No mundo vocês terão aflições, alertou-nos Jesus (Jo 16.33). Mas disse que deveríamos manter o ânimo pois Ele venceu o mundo! Acho linda a oração de Habacuque (Hb 3.17-19). Será que como Davi podemos terminar bem nossos salmos de dor? Como Habacuque, manter a alegria em meio a desolação?

Stenio Marcius, em sua canção “E Se”, se pergunta como se sairia. Pergunto-me o mesmo e deixo você com a mesma pergunta. “A figueira não floresce, não há fruto na videira, o produto da oliveira mente. Rios, campos não produzem, o curral está vazio, o aprisco está deserto. Tudo isso se passando e o profeta mesmo assim vai se alegrando em Deus. Mas e se fosse comigo? Pra quê mesmo que eu vivo? Onde está minha alegria? E se a dor for minha sina? Será que ainda faço rima? Canto alegre a melodia? E se eu perdesse tudo será que contudo me alegraria em Deus? Eu quero ser, não quero ter! Eu quero crer, não quero ver! Que minha alegria seja tão somente me lembrar de Ti, meu Deus! Viver e só de Ti viver. Morrer ansioso por te ver. É minha oração. É assim que eu queria ser.” (E Se – Stenio Marcius). Que a Graça de Deus nos faça assim; nos faça ser.

 

ucs

 

 

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