Quando o galo cantar

“Quando a criada o viu lá, disse novamente aos que estavam por perto: ‘Esse aí é um deles’. De novo ele negou. Pouco tempo depois, os que estavam sentados ali perto disseram a Pedro: ‘Certamente você é um deles. Você é galileu!’ Ele começou a se amaldiçoar e a jurar: ‘Não conheço o homem de quem vocês estão falando!’ E logo o galo cantou pela segunda vez. Então Pedro se lembrou da palavra que Jesus lhe tinha dito: ‘Antes que duas vezes cante o galo, você me negará três vezes’. E se pôs a chorar.” (Marcos 14.69-72)

Com qual dos apóstolos você mais se identifica? Com qual deles você se parece mais? A leitura das Escrituras nos coloca diante de pessoas cuja vida e experiências tem o potencial de nos revelar. Todos são iguais, todos são mortais, como canta João Alexandre. Aqui estamos nós diante da famosa negação de Pedro. Ele não sabia que poderia ir tão longe, desconhecia seu potencial para a fraqueza. Até que o galo cantou e “a ficha caiu”. Então Pedro chorou. Chorou de vergonha, arrependimento, culpa, lamento… mas já estava feito.

Olhe para você. Você é como Pedro. Eu sou como ele também. Negamos o Mestre e muitas vezes não percebemos. Precisamos ouvir o galo cantar, mas há tantos sons ao nosso redor! Não temos muito tempo para exame interior e não nos demoramos muito nos momentos dedicados a Deus. E quando paramos, a mente fervilha de lembranças do que precisamos fazer. É incrível como nos lembramos do que fazer quando o que estamos tentando fazer é estar com Deus! Precisamos escolher, nos determinar, ser disciplinados ou nossa espiritualidade sobreviverá das sobras de nossa vida, fracassando no que Ele mandou: “coloquem o Reino de Deus em primeiro lugar” (Mt 6.33).

Devemos aceitar o fato de que seguir a Cristo é uma escolha exigente que nos colocará diante de sentimentos de inadequação, arrependimento, numa luta do lado de dentro cuja vitória dependerá de nossa submissão a Cristo, o que significará dizer não a nós mesmo. Mas é justamente assim que conhecemos a verdadeira vida, cujo significado e sentido ancora-se na eternidade e é fruto do amor de Deus. Vida plena, que prevalece, que deixa para trás fraquezas, pecados, negações e por fim, toda dúvida. Talvez hoje a pauta seja o choro e o arrependimento pelo pecado. Mas sempre haverá mais vida no choro de quem volta para Deus do que no sorriso de quem fica consigo mesmo. Quando o galo cantar, chore. E volte.

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