Quando compreenderemos?

“Respondeu Jesus: Você não compreende agora o que estou lhe fazendo; mais tarde, porém, entenderá. Disse Pedro: Não; nunca lavarás os meus pés”. Jesus respondeu: “Se eu não os lavar, você não terá parte comigo.” (João 13.7-8)

Pedro entenderia mais tarde, foram as palavras de Jesus. Ele não tinha condições ainda de ver as coisas como precisava. Mas o tempo chegaria. Jesus o conhecia e sabia muito bem como caminhar com seu discípulo, o mais impetuoso de todos. Compreender também não é nosso ponto forte quando o assunto é Reino de Deus. E as vezes o que mais nos atrapalha é o que pensamos que mais nos ajuda: nossas heranças religiosas, nossos costumes e práticas de fé. Lemos Jesus ensinando sobre o lugar do sábado, mas ainda temos um dia santo na cabeça. Sabemos dizer de cor o texto que aponta o perigo de sermos contaminados pelo que sai de nossa boca, mas ainda não aprendemos a guardar os nossos lábios. Temos tanto a aprender, mas somos lentos. Achamos que já sabemos e as vezes é isso que nos mantém distantes do que deveríamos aprender.

Pedro precisava aprender a ordem das coisas no Reino de Deus. Uma ordem que é inversa à ordem que orienta a vida no reino dos homens. Para Pedro, Jesus não deveria agir daquela forma. Ele não poderia aceitar aquela atitude de Jesus e pensava que sua recusa era a atitude correta, para concertar as coisas. Sua lógica não é entranha à minha! Sua atitude me parece razoável! Mas ele estava enganado e eu aprendo que também estou. No Reino de Deus, o Maior é o mais dedicado Servo. A reação de Jesus à recusa de Pedro parece exagerada, mas não é. Ela demonstra o quanto servir é central na vida de quem o segue. Não é algo negociável. É fundamental. E se Pedro não rompesse com seus pressupostos, se não aceitasse aquele constrangimento, não entenderia seu lugar. Seguir a Cristo é tornar-se servo. “Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos céus, mas apenas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus.” (Mt 7.21) Seguir a Cristo não tem a ver com ritos ou mesmo com auto aprovação ética. Tem a ver com amor, bondade e serviço ao semelhante.

Como se parecem aqueles que seguem a Cristo? Parecem-se com servos. Com gente que anda sempre com a toalha em volta da cintura. Que tem ambição de servir o máximo possível. E tudo que faz é para a glória e honra de Cristo. Por isso não espera gratidão ou reconhecimento. Não depende de incentivo e não busca recompensa. O que faz, faz por reconhecer o que Cristo já fez. O que faz, faz porque sabe que é servindo que dará vida à fé que tem. Do contrário terá uma fé morta (Tg 2.17). E fé morta não é fé de quem segue a Cristo. É a fé de quem apenas segue uma religião. Pedro precisava da experiência de ter o seu Mestre lavando-lhe os pés. Da experiência de olhar para baixo e ver seu Senhor de joelhos, limpando a poeira de seus pés. Assim ele pode compreender, ainda que mais tarde, e então escrever: “Cada um exerça o dom que recebeu para servir aos outros, administrando fielmente a graça de Deus em suas múltiplas formas.” (1 Pd 4.10) Este é o nosso chamado. Esta é a nossa fé. Este é resultado de sermos alcançados pela graça. Quando compreenderemos isso?

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