Prisioneiro

A adrenalina disparou, tirando seu sono e o trazendo para a triste realidade. Era dia lá fora, mas na cela, sem janelas, não se tinha noção alguma do tempo. A luz no interior criava uma atmosfera atemporal.

Suas palavras e seus pensamentos não se referiam a nada mais que a coisas relacionadas ao passado. Pensou “O trabalho apropriado da mente é o exercício de escolha, recusa, anseio, repulsa, preparação, objetivo e consentimento. O que pode então comprometer e impedir o funcionamento apropriado da mente? Nada, senão as decisões deturpadas tomadas por ela própria”. Leitura que teve na prisão ao ler o texto estoicista de Epicteto.

Sua lembrança dos ensinamentos do estoicismo lançava clarões na monotonia da prisão.
O relógio do mundo tinha parado para ele, no dia da sua prisão, mas envelheceu vinte anos lendo textos estoicos, aprendendo com Marco Aurélio, Epicteto, Sêneca e tantos outros filósofos estoicos.

Envelheceu tudo o que tinha de envelhecer, nestes 20 anos de prisão e agora estava com os cabelos brancos. A pele descorada pela falta de sol. Rezando para encontrar um modo de viver que “conciliasse corpo e alma, neste mundo e o que há de vir”, e a filosofia estoica foi o caminho de luz para ele.

Encontrou estas outras verdades, que a alma abraçou e que não tinha grades. Fez a transição entre as trevas do interior da prisão e o campo eletrizante de luz da filosofia estoica.

Pensou “Apenas a razão poderá libertar o homem!”. A razão não dá o poder da liberdade. É a sabedoria que dá a força. O lugar que vivemos no mundo é sempre atacado.

“Manter este pensamento em mente ao alvorecer e ao longo do dia e da noite: há somente um caminho para a felicidade, que é abandonar tudo que está fora da tua esfera de escolha, não considerando mais nada como tua posse, entregando tudo a Deus e a Sorte”, discurso estoico de Epíteto.

João Misael Tavares Lantyer
Escritor: “Retalhos na Pandemia”, “Tormento”, “Crônicas Azuis”

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