Primavera

Primavera

Vivi em Porto Seguro, as habitações eram antigas e na casa que morei existia um quintal com cisterna e canteiro de rosas. Na primavera exuberante em suas cores e perfumes, na década de sessenta tudo era natureza e com noites puras com estrelas grandes, e uma lua miúda.

No meu coração de criança este espetáculo encantava o imaginário, não tão intenso como papai noel, mas com lembranças eternas. O que valia era a aparência das flores e árvores. Lembro do piquenique, no meio das pitangueiras floridas e com uma luz do sol ameno.

Nestes lindos dias levávamos marmitas e sentávamos na grama verde para comer. Sentia como se o relógio do mundo parasse de bater, e a respiração ganhasse um ritmo mais lento e natural com a presença dos familiares e colegas do curso primário. Era um modo de viver que conciliava corpo e alma.

A primavera trás outras verdades, a verdade da beleza do verde, que hoje está sendo tão agredida pelas queimadas, que acredito que tenha relação com o degelo nos polos. O clima está mais quente no mundo. Desde criança sempre me agradava contemplar as formas da natureza, que ficam mais nítidas na primavera, e goste de andar em áreas verdes, como o Parque da Cidade, abandonando-me apenas ao seu encanto peculiar à sua profunda e complexa linguagem.

As longas raízes das árvores, os veios coloridos das pedras, todas as coisas desse gênero tiveram desde muito para mim um singular encanto. Nesta fase madura do viver a contemplação das formas irracionais, singulares da natureza, despertam em mim um sentimento de consciência do mundo interior onde vemos dissolver-se as fronteiras entre o meu ser e a natureza.

Conheço um novo estado de ânimo refletido em minha retina, procedente de impressões interiores e exteriores sendo que minha alma participa sempre de uma contínua criação desta nova primavera. Uma divindade atua sobre o meu ser e a natureza, e o mundo exterior desaparece, como ele é na cidade com prédios e carros e é reconstruido, com montanha e rios, árvores e folhas, raizes e flores, todas as criaturas da natureza estão previamente criadas no meu interior para viver esta estação do ano, provêm de nossa alma, cuja essência é a eternidade, essência que espanca os nossos conhecimentos, mas que se faz sentir como força amorosa e criadora.

*João é natural de Salvador, onde reside. Engenheiro civil e de segurança do trabalho, é perito da Justiça do Trabalho e Federal. Neste espaço, nos apresenta o mundo sob sua ótica. Acompanhe no site www.osollo.com.br.

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