Criança Pataxó tem 13 anos e está com um problema no coração. Sangue tem um sistema de grupo sanguíneo raro, o que dificulta doação.
Um índio Pataxó de 13 anos espera uma doação de sangue para realizar uma cirurgia no coração. O tipo do sangue dele é “O positivo”. Segundo os médicos, um dos mais comuns entre os brasileiros. A dificuldade em encontrar um doador compatível é que o sangue dele tem um sistema de grupo sanguíneo chamado “Diego B negativo”, que é raro na maioria da população brasileira.
O garoto espera há mais de 45 dias por uma doação porque ainda não foi encontrado sangue compatível com o dele. O índio Pataxó Emerson Braz mora na aldeia Jitaí, em Porto Seguro, no extremo sul da Bahia.
“O mais conhecido dos grupos sanguíneos é o sistema A B O. Existem outros sistemas que não são conhecidos que também são importantes na hora de transfusão. Tem um sistema de grupo sanguíneo chamado Diego. Tem o A e o B. Cada um pode ser positivo ou negativo. Ele [o índio] tem o Diego negativo, que é muito raro na população em geral, é mais comum em índios e asiáticos. Essa é a dificuldade. No sistema A B O, ele [o índio] é O positivo. Além de ser O positivo ele tem o sistema Diego negativo”, afirma o hematologista Marinho Marques, diretor de hemoterapia da Fundação de Hematologia e Hemoterapia da Bahia (Hemoba).mãe de Emerson, a índia pataxó Evani Cardoso Braz, conta que o menino começou a apresentar sintomas do problema no coração há cerca de dois meses. “Ele começou a sentir umas dores e ter falta de ar, não conseguia dormir direito. Levamos ele para um hospital eu Itamaraju [cidade no sul da Bahia] e ele foi transferido para Salvador para fazer exames”, afirma.
Foi no Hospital Martagão Gesteira, localizado no bairro do Tororó, na capital baiana, que o garoto indígena recebeu o diagnóstico. A unidade é especializada no tratamento de crianças com problemas no coração. Emerson tem um problema em uma das válvulas do coração que dificulta a circulação do sangue. O nome da doença é valvulopatia. Por enquanto, a saúde de Emerson tem sido controlada por remédios, mas é preciso realizar a cirurgia o mais rápido possível para que ele volte a ter uma vida normal.”Ele não pode correr, brincar como antes, fica mais em casa agora. Sinto que o coração dele não bate igual ao nosso. O coração dele é acelerado. Às vezes eu ficou preocupada porque aqui é muito difícil, demora para chegar socorro. Eu tenho muita esperança de conseguir que ele faça essa cirurgia”, disse a mãe do menino. Ele voltou para a aldeia desde o dia 13 de abril e só deve retornar para Salvador para realizar a cirurgia. Emerson é o segundo de quatro filhos da índia Evani, que tem 32 anos. Ela conta que não trabalha, que a família vive da agricultura de subsistência na aldeia Jataí e os remédios usados por Emerson são doados pela Fundação Nacional do Índio (Funai).
Na quarta-feira (18), foram realizadas coletas de sangue em duas aldeias de Porto Seguro. Familiares de primeiro e segundo grau do menino fizeram o procedimento, mas até agora não há informações de que foi encontrado sangue compatível com o do índio Emerson. “A gente está em pesquisa nas aldeias e em contato com hemocentros de outros estados que têm maior população indígena. O Diego B negativo é um sistema de grupo sanguíneo. Todas as pessoas têm, porém, o mais comum é o Diego B positivo, por isso a dificuldade. Existem diversos outros sistemas de grupo sanguíneo que todos têm, mas que também não são conhecidos, como por exemplo o Kell, Kidd, Duffy, MMS”, afirmou o hematologista Marinho Marques.
Fonte: Lilian Marques