Por Bárbara Martau
O porto-segurense Alexandre de Sousa Silva, de 47 anos, preso desde julho de 2009 na Inglaterra, acusado de conspiração para o tráfico de drogas classe A, passará a cumprir a pena de 11 anos a qual foi condenado em regime semiaberto. A reclassificação do regime para a categoria D foi confirmada pela Justiça britânica em um documento expedido no último dia 21 de janeiro. Em entrevista exclusiva, via Skype, à jornalista Bárbara Martau, Alexandre contou mais detalhes dessa nova fase e quais os planos para o futuro.
Novo presídio
Atualmente detido em um presídio em Londres, o porto-segurense aguarda uma vaga no presídio de Standford Hill, cuja sede fica em uma antiga estação da Força Aérea Real britânica na Ilha de Sheppey, no estado de Kent, distante cerca de 40 minutos de Londres. Por abrigar detentos de categoria D, possui segurança mínima e se parece mais com um condomínio fechado do que com um presídio, sem cercas ou muros altos.
Ele passará a trabalhar durante o dia e pernoitará na casa de detenção. A crise econômica que assola a Europa, inclusive a Inglaterra, é um motivo de preocupação para Alexandre. “O presídio para onde eu vou tem um departamento específico que ajuda a arrumar trabalho. Mas é claro que a crise econômica me preocupa. Afinal, se quem não está preso está preocupado, imagina eu, que estou com 47 anos”, observou.
Alexandre ficará no semiaberto até completar 5 anos e meio que está preso – na Inglaterra, é preciso cumprir metade da sentença em detenção. Como a pena de Alexandre foi de 11 anos, em março de 2015 ele estará totalmente livre. Mas o baiano tem esperança de que consiga abreviar o fim desse pesadelo iniciado em 2009. Para isso, contratou um novo advogado britânico que tentará apelar para obter a anulação da pena ou, pelo menos, a redução da sentença, considerada excessiva para o crime pelo qual Alexandre foi condenado. “O advogado disse que, mesmo que eu tivesse cometido o crime de tráfico – e eu volto a afirmar que sou inocente -, pela quantidade de drogas encontrada, e pelo crime em si, a sentença ainda é muito alta”, afirmou Alexandre.
Redução de sentença
Por isso, o principal objetivo do baiano quando estiver no semiaberto será apressar o processo de pedido de revisão de sentença. Mas isso não depende dele. Por não ter mais direito a advogado pago pelo governo britânico, o que é concedido somente até o julgamento, Alexandre precisa arcar com os custos do novo advogado. Mas nem ele, nem a família em Porto Seguro dispõem de recursos para isso.
Graças à intercessão da senadora baiana Lídice da Mata, o Itamaraty se comprometeu a arcar com os custos do escritório de advocacia inglês. No entanto, não há data de quando o governo irá liberar esse pagamento, nem qual o valor disponibilizado.
Esforço junto às autoridades
Desde que Alexandre foi preso, a mãe dele, dona Ivone, e a irmã, a professora aposentada Sonali, têm ido constantemente a Brasília, tanto no Congresso quanto junto ao governo federal, em busca de apoio das autoridades. O esforço surtiu surtido efeito, mas não com a rapidez que seria esperada para o caso.
Para tentar agilizar o andamento dessas questões, dona Ivone aproveitou a visita do governador Jaques Wagner a Porto Seguro, no dia 28 de janeiro, durante a inauguração do Centro Comunitária de Segurança, e entregou um documento a ele solicitando que o governo do Estado pressione o Itamaraty. Na ocasião, dona Ivone também se encontrou com a prefeita de Porto Seguro, Cláudia Oliveira, que prometeu recebê-la, em breve, em uma audiência.
Planos
Enquanto aguarda a solução desse impasse do governo brasileiro, traça planos para o dia-a-dia no regime semiaberto. “Psicologicamente, estar no semiaberto vai ajudar a me reafirmar como indivíduo, a colocar os meus pés no chão e recomeçar a minha vida”, disse. “Mas eu sei que não estou totalmente livre. Não é uma liberdade porque ainda terei que passar todas as noites na prisão e tenho que prestar contar para eles. Não posso viajar, não posso fazer nada, pois isso não é uma liberdade completa. Eu só vou me sentir completamente livre quando estiver com minha família e com meus amigos no Brasil”, concluiu.
Apesar de tentar manter uma atitude positiva ao longo desses anos que está detido, Alexandre admite que a condenação, especialmente pelo fato de ele ser inocente, abalou profundamente o seu estado psicológico. “Eu sei que mesmo depois de livre eu ainda sentirei esse gosto amargo da injustiça. Por isso vou procurar fazer uma terapia de apoio para me manter focado e de cabeça erguida quando sair da prisão. Foi um baque muito grande na minha vida. Perdi um ótimo trabalho de mais de 12 anos, uma carreira, perdi minha casa. E sendo inocente o peso é muito maior. Além do mais, para o resto da vida eu vou levar aquela mácula de ser ex-presidiário. Por isso tenho que me preparar psicologicamente para encarar tudo isso.”
Entenda o caso
O drama de Alexandre, que mora há mais de 20 anos na Inglaterra e tem cidadania inglesa, começou em julho de 2009, quando ele foi preso acusado de conspiração para tráfico de drogas. Alexandre permaneceu preso de 6 de julho até 20 de novembro de 2009, quando passou a aguardar o julgamento em liberdade.
Em março de 2010, o juiz Peter Clarke o sentenciou a 15 anos de prisão. Após a condenação, um amigo de Alexandre assumiu toda a culpa sobre o flagrante com drogas, em uma carta escrita à Corte britânica, reforçando a inocência do baiano. No dia 20 de janeiro de 2011, o brasileiro teve a pena reduzida para 11 anos.