Por que você deve começar a comer insetos?

Por que você deve começar a comer insetos?
Larvas e baratas estão prestes a chegar ao seu prato. E são essenciais para o futuro da alimentação. Conheça sete razões (e três receitas) que podem convencer você a encarar estes insetos do mesmo jeito que olha para o arroz e o feijão. Fotos Superinteressante

 

1. O nojo que você sente é relativo
Insetos podem, sim, ser bons substitutos para bois, porcos e frangos. No “pasto”, eles ajudariam a economizar água e custariam menos, além de serem mais nutritivos do que outras carnes. Tudo muito legal se não fosse um detalhe: imagine como seria mastigar uma larva. Sentir a textura do bicho e o jeito que ele explode dentro da sua boca. Ruim? Saiba que o nojo que você sente é natural, mas pode ser domesticado. Tanto que existem provas de gente capaz de comer insetos espalhadas pelo mundo todo. Dos índios brasileiros, que adoram formigas, aos glutões japoneses, viciados em gafanhotos, passando por povos do México e aborígenes da Austrália. Você também pode dizer que a questão não está só na cabeça, mas no próprio bicho: eles são sujos. Bom, nem sempre.

2. Insetos não são sempre sujos
Está vendo as larvas deste macarrão? Elas cresceram protegidas da sujeira, comendo ração em fazendas especializadas na criação de insetos. Para Gilberto Schickler, um dos responsáveis pelo desenvolvimento deste gado meio diferente, nenhum animal é sujo por natureza. “Tudo depende do jeito que você cria. Porcos, por exemplo, podem crescer em granjas ou em lixões.” Schickler trabalha na Nutrinsecta, que forneceu os bichos mostrados nesta matéria. Com planos de produzir insetos para consumo humano, a empresa de Minas Gerais foi a primeira do Brasil a consultar o Ministério da Agricultura sobre o assunto. Agora, planejam abrir um restaurante na região para divulgar a iguaria.

No mundo
Veja as regiões onde insetos são mais populares. E quantas espécies eles podem comer.África
Espécies comestíveis – 524
Países que consomem – 62%Ásia
Espécies comestíveis – 349
Países que consomem – 58%

Oceania
Espécies comestíveis – 152
Países que consomem – 56%

América
Espécies comestíveis – 679
Países que consomem – 41%

Europa
Espécies comestíveis – 41
Países que consomem – 21%

Fonte Edible Forest Insects, Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação.

3. Insetos estão cheios de energia
Adicione um fator importante à limpeza: eles são ricos em proteína. E costumam carregar mais deste nutriente do que outros bichos. Compare: enquanto a carne de boi é composta por apenas 28% de proteína, o corpo de moscas e mosquitos chega a quase 59%, e libélulas têm 58% (veja mais no gráfico). “Eles também são ricos em vitaminas, principalmente a B, e minerais, como ferro e cálcio”, enumera Marcel Dicke, professor de entomologia da Universidade de Wageningen, na Holanda. Para terminar, possuem ácidos graxos essenciais, um tipo de gordura também encontrada em peixes, que ajuda nosso corpo a metabolizar energia.

Quantidade de proteína
Moscas têm quase o dobro de proteínas que bois. Veja a quantidade de nutrientes de outros insetos.Moscas e mosquitos – 59%
Libélulas – 58%
Percevejos – 55%
Cigarras e cigarrinhas – 51%
Besouros – 50%
Formigas E abelhas – 47%
Borboletas e mariposas – 45%
Baratas e grilos – 44%
Boi – 28%
Porco – 25%
Frango – 23%Quantidade de ração
A mesma quantidade de alimento produz muito mais carne de inseto do que carne de boi.

10 kg de ração
1 kg de carne de boi
8 kg de carne de inseto

 

Desperdício de carne
Boa parte dos animais é perdida. Mas, em média, apenas 20% do corpo dos insetos não vai para o prato.

Inseto – 20%
Porco – 30%
Frango – 35%
Boi – 45%

Fonte Edible Forest Insects, Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação.

4. Eles não são sempre nojentos
Está mais convencido? Pronto para encarar uma pizza de larvas? Se a resposta for negativa, olhe para o pote branco bem ao lado da pizza, com uma colher dentro. A proteína, as vitaminas e a gordura estão todas neste potinho, porque isso é larva de mosca. E você nem desconfiou. Até mesmo uma inofensiva porção de pão de queijo pode ter baratas dentro. Não, você não vai encontrar asas ou patas no meio da mordida. Nesse caso, o bicho é esquentado, triturado e transformado em pó antes de ser misturado à massa. Isso faz com que todos os nutrientes do inseto fiquem escondidos na comida. Ou seja, a repulsa causada pela aparência pode ser evitada com um simples triturador. A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação acredita nesta farinha. E defende que seja usada para reforçar a comida distribuída a povos que sofrem com a falta de comida.

5. Criar insetos é mais barato
Além de mais nutritivos do que outros tipos de carne, é mais barato criar insetos do que gado. “Por terem sangue frio, eles precisam de menos comida”, explica Lynn Kimsey, professora de entomologia da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, “e essa ração é mais simples e barata de produzir”. Além disso, os bichinhos ocupam menos espaço e se reproduzem mais rápido do que os outros animais que estamos acostumados a ver em pastos. E, no final do processo, são mais bem aproveitados. Afinal, muitas partes do boi não são consumidas – pense em pés, dentes, ossos e pele. Enquanto isso você pode mandar uma larva numa mordida, de uma vez só.

6. Bifes serão como caviar
Ainda prefere arroz e bife? No futuro, talvez esta não seja uma boa escolha. Porque, em algumas décadas, carne será uma iguaria de luxo. A previsão, da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, diz que o pedaço de terra destinado à criação de animais precisará crescer em 70% para alimentar a população do planeta em 2050, que deve chegar a 9 bilhões de pessoas. “É simples: não teremos alimento se continuarmos usando a pecuária como a grande fonte de proteína”, resume Marcel Dicke, da Universidade de Wageningen. Ajuda lembrar que, mesmo com a pouca quantidade de insetos que pode ser consumida por humanos (são apenas 1 600 tipos comestíveis entre 1,5 milhão de espécies catalogadas), o ritmo frenético com que eles se reproduzem transforma a carne de insetos numa fonte de comida abundante.

7. Você vai gostar de comer insetos
Se você ainda não se convenceu, chegou a hora do argumento final: eles são gostosos. E eu não precisei ouvir isso dos entrevistados. Experimentei as três receitas que você vê nesta matéria (além de ter comido apenas os insetos, sem molhos e temperos, antes e depois do preparo) e descobri que eles são apetitosos. A única dificuldade é esquecer a natureza dos bichinhos. Para ajudar, lembrei que muitos dos alimentos que consumo no dia a dia já vêm com pedaços de insetos. “Porque é impossível separá-los da comida”, explica Daniella Martin, jornalista especializada em gastronomia de insetos. “Sempre que colhemos uma safra, colhemos os bichos que andam pelas plantas também. E eles aparecem em muitos produtos vendidos no mercado.” No fim das contas, acabei superando as impressões iniciais e até comeria uma segunda rodada de larvas. E você? Toparia um prato de arroz e baratas no jantar?

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