“Somos consumidos pela tua ira e aterrorizados pelo teu furor. Conheces as nossas iniquidades; não escapam os nossos pecados secretos à luz da tua presença. Todos os nossos dias passam debaixo do teu furor; vão-se como um murmúrio. Os anos de nossa vida chegam a setenta, ou a oitenta para os que têm mais vigor; entretanto, são anos difíceis e cheios de sofrimento, pois a vida passa depressa, e nós voamos!” (Salmos 90.7-10)
No texto de hoje há duas informações que deixam claro que nossa vida poderia ser uma enorme tragédia, do início ao fim: a primeira é que somos pecadores e nossas iniquidades (falta de retidão) são plenamente conhecidas por Deus que tem poder para nos julgar e condenar; a segunda é que nossa vida é breve e, se por ventura estende-se um pouco mais, este período é marcado por dificuldades e sofrimento. Poderia ser somente isso. Mas, por causa de Deus, não é. Por isso o salmo não começa com estas constatações, mas com Deus. Por causa dele a tragédia é superada.
Deus se importa, Deus se aproxima. Deus é bom e amoroso. Deus é refúgio e fortaleza nos tempos de angústia. É socorro bem presente. Suas misericórdias nos preservam e se renovam a cada manhã. Para gente como nós, propensos ao erro e vulneráveis ao mal, a vida seria miserável se Deus não nos amasse. Sem Seu perdão e aceitação, que seria de nós? Ele nos amou primeiro e, entre nós e Ele, é Ele a parte fiel da relação. Somente por isso é que a constatação que Moisés faz nesta parte do salmo nem parece o retrato da vida de tantos de nós. A presença de Deus na vida subverte o processo existencial que terminaria vazio e triste, tornando-o uma jornada de restauração, transformação e esperança.
Viver como cristão e seguir a Cristo é manter claro que tudo que nos é possível desfrutar de bom nesta vida é por causa do amor de Deus. Ele derrama sua misericórdia sobre todos! Mesmo para os céticos, para os ateus, para os que existem ignorando completamente a história da salvação, isto é verdade. Mas a plenitude existencial, que torna o fim da vida apenas um começo e nos liberta de culpas e enganos para partirmos em paz, isso resulta de seguirmos a Cristo. Não de saber coisas sobre Ele ou estar envolvido com alguma religião, cumprindo seus rituais. A plenitude de vida é comunhão com Deus, a bênção da presença de Cristo. Tudo fruto da graça, concedido por Seu amor. Possível a todo ser humano. Um passo além da misericórdia que nos livra da tragédia.