“Passado algum tempo, Deus pôs Abraão à prova, dizendo-lhe: ‘Abraão!’ Ele respondeu: ‘Eis-me aqui’.” (Gênesis 22.1)
Teresa de Ávila foi uma freira católica nascida na Espanha em 1515. Sua biografia inclui uma interessante conversa com Deus: “Senhor, se estou cumprindo Tuas ordens, por que tenho tantas dificuldades no caminho?” Deus teria então respondido: “Teresa, não sabes que é assim que trato os meus amigos?” Teresa, então, honrando seu sangue espanhol, teria respondido: “Ah, Senhor, então é por isto que tens tão poucos amigos!” Sirvo-me desta história para salientar a seguinte questão: e quando nossa fé e confiança em Deus nos leva a momentos e experiências dolorosas? E quando Deus parece não nos defender e até mesmo parece ser a causa de nossa dor?
O texto de hoje nos diz que “Deus pôs Abraão à prova”. É assim que as Escrituras se referem a experiência de Abraão com o pedido de Deus para que ele sacrificasse Isaque, seu filho. Abraão não sabia bem o que lhe esperava, do contrário, talvez não dissesse a Deus “eis-me aqui”. Mas o propósito de Deus não era causar danos ou prejudicar Abraão. Por meio do profeta Jeremias, Deus disse aos israelitas que eles ficariam no cativeiro por 70 anos, mas deveriam confiar, pois Seu propósito era abençoa-los (Jr 29). Não gostamos quando Deus escolhe caminhos dolorosos para nos levar onde deseja ou mudar algo em nós que precisa ser mudado.
Mas, há momentos em que é este o caminho inevitável para que aprendamos a “andar ao contrário”, visto que o Reino de Deus, comparado ao dos homens, é um Reino ao contrário. O dialogo de Teresa de Ávila parece dizer que isso tem a ver com Deus, como se Ele quisesse nos levar à dor. Mas isso tem a ver conosco, com a dor que sentimos para mudar, para realinhar a vida, para aprender a ser quem devemos ser e a orientar a vida de um jeito novo. Às vezes é preciso que algo seja quebrado ou perdido. É assim que aprendemos a ser como Jesus, a ser servos. Um coração de servo não é algo que se aprende apenas com sorrisos. Pode doer e envolver muitas tensões. Tudo começa com um “eis-me aqui” para Deus. E não precisamos ter medo: valerá cada dor, lágrima ou angústia.
ucs