“Assim como cada um de nós tem um corpo com muitos membros e esses membros não exercem todos a mesma função, assim também em Cristo nós, que somos muitos, formamos um corpo, e cada membro está ligado a todos os outros.” (Romanos 12.4-5)
A fé cristã nos insere num ambiente de fé, numa comunidade, a que Paulo gosta de referir-se como “um corpo”. Um corpo do qual a cabeça é Cristo e no qual cada cristão é um membro, uma parte. Esta metáfora paulina tanto ilustra a igreja no sentido universal, que reúne todos os cristãos de todos os tempos e lugares, como é o modelo que deve inspirar cada cristão em sua igreja local, temporal. Esta declaração de Paulo vem logo após sua orientação para que não pensemos sobre nós mesmos além do que convém (Rm 12.3). Ele nos orienta a nutrir uma autoimagem equilibrada pela graça de Cristo, pois a maneira como nos vemos determina a maneira como nos relacionamos. E assim Paulo nos coloca diante da responsabilidade de considerar nossos problemas com os outros a partir de quem somos e não a partir de quem o outro é, para que nossas dificuldades não sejam fruto de nossa presunção ou autocomiseração.
Muitas vezes nosso conflito com o outro é, na verdade, nosso conflito conosco mesmos. Muitas vezes nosso problema somos nós, e não o outro! Jesus, os escritos do Novo Testamento e também do Antigo Testamento, nos declaram que, embora pessoal, a fé cristã não é individual. E por isso sempre nos colocará diante do outros e do dever de nos unir a eles para formar “um corpo”, uma comunidade. E na vida em comunidade seremos provados e aparecerá nosso coração e revelaremos nossa autoimagem em atitudes e posturas. Nossa cura e crescimento estão em aprendermos a ser ramos da mesma videira (Jo 15), amando uns aos outros e servindo uns aos outros. Jesus disse que é assim que o mundo saberá que o Pai o enviou. Nos lábios de Jesus a vida comunitária em amor não é uma opção. E é, inclusive, o que autentica nossa mensagem como mensagem cristã!
A vida comunitária é mais desafiadora que o individualismo que tem se tornado a marca do nosso tempo e que é uma contradição da fé ensinada por Jesus! Somos diferentes e temos dons diferentes e isso é necessário. É pela diversidade que um corpo é formado. É pela diversidade de funções que ele cumpre sua missão! É pelo amor que poderemos estar ligados uns aos outros e sermos aperfeiçoados! E o obstáculo a isso é a maneira equivocada com que nos vemos. Por nos faltar equilíbrio, falta-nos humildade e sabedoria para ser parte do corpo e servir! É no corpo que somos exigidos, provados e desafiados a demonstrar que Cristo é, de fato, nosso Senhor e Mestre. Não é apenas “no mundo” que a fé é provada, mas, sobretudo “no corpo”. No exercício de amar, perdoar, servir, cooperar, cuidar, incluir, acolher e aprender a valorizar e respeitar o outro, tanto quanto a nós mesmos.
ucs