A fonética forense é responsável por identificar locutores interceptados para produção de provas em investigações criminais ou em instruções de processos e ganhou força no Brasil no início da década de 1990. A atuação de profissionais da área de linguística, com especialização em fonética, é comum em casos policiais de diversos crimes, confrontando a fala de um suspeito com a mensagem de uma interceptação determinada pela justiça. A técnica ficou conhecida com a atuação de peritos foneticistas em episódios de grande repercussão, como a gravação do ministro do Trabalho no governo Collor, Antonio Magri, e do caso PC Farias. A produção dos laudos é embasada na avaliação dos áudios captados.
A confirmação da identidade de um locutor prevê, além da análise acústica, o reconhecimento de outras particularidades da fala do indivíduo. É o que explica Adelaide H. Pescatori Silva, docente do Departamento de Literatura e Linguística da Universidade Federal do Paraná. “Há questões como sotaque, curvas entoacionais marcantes, escolhas lexicais, uso de marcadores discursivos de maneira recorrente, qualidade de voz, entre outras características. Buscamos traços que permitam isolar e compor o perfil da fala de um sujeito específico. Isso vai além da análise de espectograma [análise acústica]. A fala se constitui de muitos fatores, temos que montar um quebra cabeça, juntando diversos fatores para identificar o sujeito”.
Adelaide desenvolve pesquisas na área de fonética há cerca de 25 anos e avalia que alguns métodos simples de identificação de locutores são arriscados. “Não basta tentar reconhecer pontos coincidentes em dois espectrogramas, porque não produzimos dois sons exatamente da mesma maneira. Você pode inocentar um culpado ou até culpar um inocente”.
A relevância do conhecimento e especialização também atrai profissionais de outras áreas em busca de qualificação. O Programa de Pós-Graduação em Letras já recebeu peritos da Polícia Civil para cursar disciplinas. Uma matéria da Revista Época, publicada na última semana [27 de maio], aponta que “há 19 especialidades entre os peritos da Polícia Federal, desde DNA e química à engenharia e contabilidade, mas nenhuma admite especialistas em linguística e em fonoaudiologia, fundamentais para a análise de escutas”. Ainda de acordo com a publicação, peritos da PF “que participaram […] do Interforensics, o maior evento de ciências forenses da América Latina, que ocorreu em São Paulo, cobraram da corporação a contratação de linguistas e fonoaudiólogos na carreira da perícia criminal”.
“É importante e necessário formar pessoas que trabalhem nessa área. A formação confere um olhar sobre a língua que os linguistas têm e outros profissionais não”, destaca Adelaide.
Investigação sobre a fala de gêmeos
Na UFPR, o Laboratório de Estudos Fônicos possui estrutura acústica para a coleta de material e análise dos dados com qualidade. O ambiente é utilizado por professores, acadêmicos e pesquisadores para o desenvolvimento de pesquisas de graduação e de pós-graduação.
A investigação da fala de gêmeos univitelinos é o tema do trabalho de conclusão de curso de Stella Lorena S. Biscaia. A estudante de Letras Português-Espanhol se interessou pela fonética forense após assistir a séries de investigação criminal.
“Achei super interessante e descobri que a série é fundamentada em estudos científicos verdadeiros. Comecei a me aprofundar nisso e em estudos criminais e em como eu poderia entrar nessa área por meio da minha formação acadêmica”, conta. “Então, percebi que em Letras posso me aproximar da criminologia, através da linguística forense”.
A acadêmica desenvolve a pesquisa para a identificação da voz de gêmeos. “Sabe-se que gêmeos univitelinos possuem vozes tão semelhantes que até familiares se confundem. Minha pesquisa busca compreender se existe uma voz única e, caso sim, qual parâmetro diferencia um gêmeo univitelino de outro”.
Fonte: UFPR