Pertencer sem pretensões

“Quem é o Todo-poderoso, para que o sirvamos? Que vantagem nos dá orar a ele? Mas não depende deles a prosperidade de que desfrutam; por isso fico longe do conselho dos ímpios.” (Jó 21.15-16)

A devoção a Deus deve ser um relacionamento profundo, cuja vocação seja a de ser cada vez mais profundo. É um reconhecimento a respeito de si mesmo e da vida a partir certezas sobre Deus. Lembremo-nos: é a devoção de Jó que está sob provação. E com a dele, a de todos nós. Ele é o devoto que cada um de nós deveria ser. O mundo caiu sobre sua cabeça, está tudo perdido. Deus não responde às suas orações. Seu deserto é árido demais! Se apenas fosse um religioso, se apenas cresse em regras, se fundamentasse sua vida em jargões pretensamente espirituais, estaria perdido. Mas ele revela algo mais profundo e valioso.

A pergunta do texto de hoje são palavras que Jó coloca na boca dos ímpios – aqueles que não temem a Deus. Eles estão construindo a própria vida e prosperidade por si mesmos, sem ocuparem-se de Deus. E isso é plenamente possível! Considerando-se a ganância ou objetivos exclusivamente materiais, é inclusive mais rápido realizar conquistas sem Deus, sem temor. Logo, que vantagem orar se posso conquistar o que desejo sem oração? Há a fé funcional, assim como a incredulidade funcional. Na primeira, creio porque preciso para obter o que quero. Na segunda, não creio porque estou obtendo o que quero sem crer. E algo triste é que um crente funcional é um reforço para um ateu convicto, pois o que aquele diz obter com Deus, o outro sabe que pode obter sem Deus. Ambos ignoram o significado de pertencer a Deus. Estão à margem da fé de fato cristã.

Jó, nosso exemplo de devoção, sabe o que é pertencer. Ele não tem mais nada e nada está recebendo. Mas a “ineficiência” de sua fé não é um problema, embora lhe cause dor. Ele não crê funcionalmente! Ele quer distância do conselho dos ímpios que talvez dissessem: “esqueça esse Deus pois de nada lhe serve!”. Deus não precisa “servir para alguma coisa”. Ele é grande demais e belo demais para isso! Jó pertence a Deus e o reconhece como Aquele em quem existe, seu começo e fim, Aquele que por fim verá. Como um peixe pertence ao oceano e não viveria fora dele, Jó pertence a Deus e não cogita a possibilidade viver sem Ele. Eis algo que temos dificuldades de assimilar. Mas é exatamente nisso que está nossa vida, libertação e paz. Apenas pertencer a Deus. Pertencer sem pretensões e aprender a estar nele. Pois, crendo ou não, é nele que todos existimos.

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