“Assim se espalharam, por não haver pastor, e tornaram-se pasto para todas as feras do campo, porquanto se espalharam.” (Ezequiel 34.5)
Pertença é o sentimento de pertencimento, algo muito diferente de pertences. Meus pertences são minhas coisas. Minha pertença é meu pertencimento. Nascemos com fome de pertença, não de pertences! Mas ao crescer algo muda e passamos a ter forme por pertences e nos esquecemos da pertença. Ávidos por pertences ignoramos a pertença que nos falta. Até temos alguma, mas não reconhecemos seu valor. Um dos grandes pecados da raça humana é a ignorância quanto à sua vocação para o pertencimento. Pertencimento é ser parte, algo fundamental para dar sentido à vida. Quando nascemos não somos alimentados apenas pelo leite materno, mas também pelos braços que nos abraçam. Precisamos do leite, mas precisamos demais dos braços. A nação de Israel estava morrendo por falta de pertencimento. Como ovelhas abandonadas, seus filhos (ovelhas) ficaram sujeitos às feras do campo.
A fé cristã nos fala do Reino de Deus, do chamado à comunhão inspirada pelo amor. Comunhão e amor, com Deus e com pessoas. Pertencimento. No pertencimento sabemos de onde nos vem a vida e sabemos a quem dedicar a vida. Clarice Lispector, falando de pertencimento, afirma que não tê-lo é como viver segurando um presente nas mãos sem ter para quem entregar. Pois precisamos dedicar o que fazemos a alguém, viver por alguém além de nós apenas. Podemos até nos iludir fazendo de nós o fim de nós mesmos. Mas, como toda ilusão, chegará o momento em que será desmascarada. Nossa vocação não é viver apenas para nós mesmos, mas para Deus e uns para os outros. É nessa relação, nesse pertencimento, que encontramos o caminho para viver a proporção necessária de vida cujo fim somos nós mesmos. O excesso de vida auto devotada não nos enche de vida, ao contrário, nos esvazia dela. Jesus deu-se por nós e tornou-se o Caminho para nos darmos a Deus e ao próximo.
O mal de nossa nação é semelhante ao mal de Israel nos tempos de Ezequiel. Cada vez menos nossos lideres alimentam nos brasileiros a pertença. Ao contrário, inspiram o desejo de pertencer a outra nação. Nossos líderes tem destruído a imagem de “mãe gentil” de que fala o Hino da Independência e assim cada vez menos o Brasil é a “pátria amada” de que fala o Hino Nacional. Sem pertencimento não ofertamos nossa vida para a nação. Não prestamos favores e os deveres que temos serão para nós pesadas obrigações. Falta-nos a alegria de pertencer, que torna o dever um ato cidadão. Como cristãos, inspirados pelo Deus que nos recebe como filhos e nos oferta Seu Reino, devemos restaurar o senso de pertencimento à nossa nação, uns aos outros e a Deus. Somos brasileiros e somos dessa terra. Temos líderes indignos do lugar que ocupam. Mas eles vão passar.
ucs