“Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores.” (Mateus 6.12)
Muitas vezes Jesus é surpreendente na forma como coloca as coisas. Como alguém que viveu entre nós os valores do Reino de Deus, orientou-se pelos princípios do Reino de Deus e buscou, sobretudo e em primeiro lugar, o Reino de Deus, não é de se estranhar que seus posicionamentos e afirmações nos surpreendam. Somos, em vários aspectos, fruto do reino dos homens. Estamos acostumados a uma lógica que não é a lógica do Reino de Deus. A do Reino de Deus nos parece ilógica e, em alguns casos, loucura. Acredito que seja por isso que esta parte da oração me intrigue. E talvez intrigue a você também. Se Jesus, antes de ensina-la aos discípulos, a escrevesse e me enviasse pedindo opinião, certamente eu sugeriria ajustes.
Acho mais lógico dizer: “Perdoa nossas dívidas e ajuda-nos a perdoar nossos devedores como o Senhor nos perdoa”. Faz muito mais sentido do meu jeito que do jeito dele, concorda? Mas é claro que estou errado. Penso assim porque ainda não estou moldado pelo Reino de Deus tanto quanto preciso. Ainda sou portador da lógica do reino dos homens. Jesus me leva a entender que não posso esperar de Deus o que não estou disposto a dar ao meu próximo. E isso me parece estranho. É uma responsabilidade que não me agrada. Não sabia que a graça que me torna aceitável a Deus me faz responsável pelo meu próximo. Achava que a vida de fé era apenas eu e Deus! Mas, nas palavras de Jesus, se me apresento a Deus para adorar, Ele logo vai me perguntar: “Onde está o seu irmão?” (Gn 4.9 e Mt 5.23-24). Como Cain, resisto a Deus: “Sou eu o responsável por ele?” Nas palavras de Jesus, sim. Sempre.
Jesus me faz ver que o meu próximo faz parte da minha fé. Não posso ir a Deus sem leva-lo junto. Minha fé em Deus tem a ver com minha relação com meu próximo, porque o Deus que me ama, o ama e me manda amá-lo! Não posso pedir que me perdoe se não estou pronto a perdoar meu próximo! Gostaria de discutir e mudar o modo como as coisas são no Reino de Deus, mas não é possível. Preciso aceitar esse novo modo e me converter. E eu pensava que “me converter” seria apenas dizer umas palavras! Preciso aprender a crer de maneira inclusiva: Deus, eu e o próximo. Antes de olhar para cima, preciso olhar para o lado e agir como alguém que já compreendeu: pedir o perdão a Deus começa por dá-lo a todo que pecar contra mim. É como as coisas são no Reino de Deus e é essa a forma de orar que Jesus ensinou.
ucs