“Bem-aventurados os que choram, pois serão consolados.” (Mateus 5.4)
Você compreende com facilidade as bem-aventuranças? Leio este texto há mais de quarenta anos e nunca o considerei fácil de compreender. O Reino de Deus, em comparação com o reino dos homens, é, sem dúvida, um Reino de ponta-cabeça, como afirma Donald Kaybill no livro que leva exatamente este nome. O Reino de Deus nos propõe perspectivas muito diferentes das que estamos acostumados. Por isso, mais um vez, Jesus nos confunde valorizando o choro e tornando-o relevante para quem deseja um futuro promissor e feliz. Bem-aventurança refere-se a essas duas coisas: A sermos felizes e a termos um futuro promissor. O futuro dos que hoje choram será melhor, nas palavras de Jesus, do que o futuro daqueles que não veem motivo para chorar. Devemos considerar isso.
Não gostamos de chorar e nem gostamos de ver pessoas chorando. Mas diante do mal, da injustiça, do descaso, do abuso, da manipulação, da exploração, do assassinato, da negação do direito, do desperdício e da corrupção, do roubo e do conluio, da falsidade e da desfaçatez, temos o dever de chorar. Chorar envolve lágrimas mas, sobretudo, significa sofrer, condoer-se, sentir-se ultrajado. Bem-aventurados os que sentem a dor e lamentam o mal e a maldade. Eles serão consolados, conhecerão a resposta, verão a solução. O mal não durará para sempre e não terá a última palavra. Os malvados, os corruptores, os promotores da miséria serão julgados e suas vítimas serão redimidas. Pode parecer que tudo está fora de controle, mas o Senhor do Universo ainda é o mesmo. Ele não entregou Sua autoridade a ninguém.
Nossa nação precisa de mais pessoas com olhos marejados e dor no peito. Precisa de mais indignação, de mais inconformação. Devemos resistir à insensibilidade para tantas crianças abandonadas e sem direitos à saúde e à educação. O preconceito de classes, raça e gênero que ainda persiste, não deve ser tolerado. O machismo que produz violência contra mulheres, em que jovens matam suas namoradas adolescentes e maridos tratam suas esposas como objetos precisa ser denunciada e punida. O número cada vez maior de jovens que perdem o controle no uso de drogas, do álcool à cocaína e tantas outras, deve doer em cada brasileiro. E as igrejas brasileiras devem ampliar seu olhar, vendo além das ruas do Céu, as ruas das cidades onde estão. Para isso é preciso que lágrimas limpem nossos olhos. No futuro, sorrirão consolados os que foram humanos e cristãos o bastante para sentirem a dor que o mal causa, e chorarem.
ucs