“Portanto, meus amados irmãos, mantenham-se firmes, e que nada os abale. Sejam sempre dedicados à obra do Senhor, pois vocês sabem que, no Senhor, o trabalho de vocês não será inútil.” (1 Corintios 15.58)
Desde que nos organizamos como cristãos, fundamos denominações, sofisticamos nossa teologia, escrevemos nossas doutrinas, estabelecemos nossas práticas e costumes, infelizmente, passamos a divergir em muitas coisas e a nos dividir. Ao longo do tempo, tacitamente, o significado de vocábulos e expressões orientadoras de nossa fé, foi sendo mudado. Por exemplo: igreja. O vocábulo jamais é usado nas Escrituras para se referir a uma construção, a um prédio ou estrutura hierárquica. Sempre é usado para indicar pessoas reunidas, de modo que as igrejas eram sempre comunidades. Comunidade é o melhor sentido para o termo. Com o tempo passamos a chamar nossos templos de igreja. E isso afetou o modo como passamos a lidar com os prédios e com as pessoas. Eles se tornaram um lugar santo e as pessoas foram colocadas em segundo plano, a serviço do templo. Temo que uma mudança semelhante possa ter ocorrido com a expressão “obra do Senhor”.
Minha experiencia com diversos cristãos e igrejas leva-me a desconfiar que realizamos uma restrição ao termo, relacionando-o quase que exclusivamente com as atividades realizadas no templo e a agenda de atividades da igreja. Sem perceber, fomos perdendo de vista a agenda de Deus, as preocupações de Deus, as prioridades de Deus, reveladas nas Escrituras e, em especial, nos ensinos de Jesus. Em ambos a obra de Deus tem sempre como alvo e objeto as pessoas e acontece, o tempo todo, no encontro com o outro, no caminho, na busca pelo perdido, no auxilio ao ferido, no combate à injustiça, no encontro com o pecador. A obra de Deus acontece, literalmente, na encarnação, no envolvimento com a vida e com as pessoas em seus dramas e aflições. Jesus nos dá este paradigma. Mas fizemos da obra de Deus algo menor, mais centrado em nós mesmos. Dependente do templo e distante das ruas.
Precisamos voltar às Escrituras e reler os textos. Procurar neles as preocupações, incômodos e prioridades de Deus e nos ocupar do que toca o coração divino. Palavras como amor, misericórdia, justiça, pobreza… e pessoas como órfãos, viúvas e estrangeiros se destacarão diante de nós. Se fizermos uma leitura comprometida, com o coração aberto e aceitando as confrontações das Escrituras, perceberemos que a obra do Senhor nos chama a pregar o Evangelho, tanto quanto a servir aos necessitados, alimentar os famintos, defender os oprimidos, ser voz para os que não tem voz e tantas outras atitudes que podem nos colocar na contra mão da sociedade em que vivemos. Podem exigir que ampliemos o leque de nossas preocupações. E, bem certamente, nos farão refletir mais sobre nosso padrão e estilo de vida. Porém, podemos ter certeza de que nada nesta vida nos dará maior significado existencial que nos ver envolvidos na obra de Deus.