Reconheço a rapidez dos fatos e o mundo sem forma passar com tantas notícias a serem digeridas com rapidez. Hoje vejo a reportagem primeiro no celular, e sempre tem muitas, CPI, morte de Lázaro, exploração de Marte, vacinação etc. Mas podemos experimentar pensar na época sem motores girando, sem zumbido eletrônico, quando havia apenas uma escuridão cobrindo tudo, silenciosa e algumas luzes espalhadas, nas casas, como quando morei em Porto Seguro na década de 60, as cadeiras na porta e a conversa fluindo, não existia celular. Fazia um estranho silêncio a não ser pelo vento chicoteando os galhos nas árvores. Hoje, o maior sentido é virtual, não o tempo da natureza, e sim, “valeu o ponteiro”, valeu o tempo investido para adquirir algo, antes as árvores, as estrelas apenas a serem testemunhas da conversa. A grande dor da vida ontem era melhor digerida, pois o instante era mais elástico.
Essa faculdade de dar um sentido solene e alto aos fatos era mais lento. Emergimos em um mundo em que tudo parece possível mas rápido. Parece uma vida de mais opções mas com muito menos tempo e os olhos perdidos nos devaneios de tantas escolhas e sabendo talvez que palavras que ouviram antes ou que sonhavam falar agora estão na tela do celular, é um mundo solitário, com as orelhas nos fones de ouvido, distraído da realidade e não sendo tocado pela singularidade e mistério do outro. A própria cabeça, se olhassem dentro dela, estava cheia de pensamentos distantes, e imaginando as pessoas à sua volta e na frente no trem ou ônibus parando na estação ou no ponto, sussurrando desculpe por um pé pisado, é a alienação do virtual acabando com o real.
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