Quando tinha vinte cinco a trinta anos, fiz várias viagens de ônibus para Natal, Fortaleza e Belo Horizonte. Nesta época, não existiam assaltos, e se existiam eram muito raros. Lembro de passar por galões de zinco e animais, principalmente, cachorros. Mais na ponta das estradas se viam fugazmente as cidadezinhas, essas pequenas cidadezinhas sempre iguais, chatas e espalhadas na planície interminável, de onde a vida foge.
Agora as via assim, como certamente muitos viram sempre iguais há anos, sentia quando passava por estas cidades paradas no tempo, um leve tremor e desamparo ao imaginar abandonado numa destas cidades, parecendo existir uma vida perversa e sem remédio.
As ruas, quase sempre estavam desertas, como se todo mundo tivesse decidido ficar em casa. O ar da rua não espanou a poeira do mistério; ao contrário, o céu azul, e a rua sossegada, os montes verdes como que o cercavam e cobriam de um véu mais transparente e infinito, é a paz mas também a monotonia.