Observatório de Greenwich

Observatório de Greenwich

O exemplo do despertador interrompendo o sono talvez seja o mais eloquente do tempo de trabalho rivalizando com o tempo de vida, impondo um condicionamento que atropela os ritmos do corpo, pois se deve acordar quando o relógio manda.

Junto a isso, a ideia de que nosso tempo é “gasto” na realização de uma tarefa, como se fosse uma moeda, incorpora a metáfora do dinheiro para forjar comportamentos e hábitos.

Todos esses processos e inovações distanciavam o tempo do trabalho do tempo da vida, diminuindo o valor intrínseco do tempo. Essa exigência foi um dos motivos para incrementar a precisão do relógio no século 19, com a acuidade na medida do tempo atribuída ao Observatório.

Era bastante frequente que existisse nos observatórios algum dispositivo para exibir a hora exata em certos momentos do dia, por isso costumavam ficar em locais mais altos. Um exemplo eram as Bolas do Tempo (Time Balls), colocadas no topo de torres visíveis de longe. Estabelecia-se que a bola cairia da torre numa hora exata. Na hora exata navios no rio Tamisa podiam avistar a bola caindo e acertarem seus relógios, pois tinham a certeza de que era uma da tarde. Até hoje quem visita o Observatório de Greenwich vê uma bola no alto da torre.

Em relação ao tempo me entrego ao acaso, fazendo meu planejamento em relação a saúde, família e estudos, mas o tempo me guia sem que eu me permita a mais pálida interferência. Ou, por outra, constato, verifico , registro, nada invento. Não sou Deus ou o destino. Sou apenas o instrumento do acaso.

O destino embaralha as cartas e nós a jogamos. E continuou caminhando pela vida usando o meu tempo. De tempos em tempos, o som de passos se eleva e depois desaparece, de pessoas que conheço e depois morrem. Tão vazia fica a minha cabeça que o desespero começa a se dissolver numa grande e suave melancolia. Alguns versos de um poema passaram pela minha mente. “Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar o instante que passou, com os ganhos e perdas, porque nada poderei dar senão a forma que tenho de ver esta vida e este momento”.

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