Sento devagarinho numa cadeira, fico olhando para a mesa. Os objetos envoltos em silêncio. A garrafa pela metade, e, na garrafa, a água imóvel. Quando estou com sede, tiro a tampa de vidro, pego a garrafa, levanto-a, ponho água no copo, observo-a escorrer, escuto o tilintar do vidro, o glu-glu da água, uma vibração de ar fresco se espalha em torno da garrafa; isto tudo me fascina, me faz passar o tempo, mas aquela água não vou beber, ainda não.
É preciso saber economizar tudo o que fragmenta o tempo. Observo a minha escova, vejo fios de cabelo nela. Pego a escova, tiro os cabelos, os cabelos finos demais, sem vigor, dos meus sessenta e seis anos. Caem no chão, um depois do outro. Como os anos, digo a mim mesmo, como aquilo a que chamam tempo. Pouso a escova, cerdas para cima: parece um inseto virado sobre a sua carapaça, estremeço ao pensar nisso. Se eu deixasse todos esses objetos onde estão e se ninguém tocasse neles durante mil anos, assim ficariam por mil anos. A chave, a garrafa em cima da mesa, os móveis, é estranho, cada objeto em seu lugar, imóvel! E então meu pensamento persistiria, incolor, inodoro, petrificado, como um bloco de gelo.