O tempo que passa

Muitos acreditam que envelhecer é melhorar. Muitas pessoas acreditam nisso. Os anos dão aos vinhos o perfume do seu buquê, aos móveis a mudança de cor, aos homens a experiência e sabedoria. Cada momento seria envolto e justificado pelo momento seguinte, que prepararia um momento melhor que o anterior, posto que mesmo os erros seriam finalmente reparados. “Cada átomo de silêncio é a possibilidade de uma fruta madura”. Nunca vou cair nesta armadilha. Mas também não vejo a vida como Montaigme, como uma sucessão de mortes: o bebê não é a morte do embrião, nem a criança a do bebê. E recuso a ideia de Fitzgerald: “A vida é um processo de degradação”. Não tenho mais meu corpo dos vinte anos, a memória falha um pouco, simplesmente achava que aos oitenta anos Minha consciência da vida vai estar melhor, este otimismo está menos vigoroso.
Mas estou vivendo outra manhã. Outra refeição. Outro dia de céu belo e digno de contemplar, com as nuvens vagueando e formando paisagens deslumbrantes. E o astro-rei sempre pontual para despontar-se e recluir-se, trazendo o calor de setembro, o melhor é seguir em frente sem pensar.