O templo e as pessoas

“Pedro e João olharam bem para ele e, então, Pedro disse: Olhe para nós!” (Atos 3.4)

Ontem refletimos sobre o templo e seu significado. Hoje, neste verso, penso que podemos refletir sobre atitudes apropriadas para aqueles que costumam frequentar templos. Alguém poderia acusar-me de estar indo além do texto, explorando imaginariamente as palavras de Lucas em Atos. Mas desafio aqueles que pensarem assim a descordarem da conexão que há entre os aspectos imaginados e a essência de nossa fé. Por isso, sinto-me livre para, refletindo, encontrar neste verso metáforas importantes que resgatem valores indispensáveis à nossa prática cristã. É devido ao esvaziamento desses valores que nossa fé e os templos que construímos para praticá-la estarem perdendo o sentido e a relevância. Lembrando o contexto de Atos, Pedro e João estão entrando no templo, na hora programada para a prática da oração e são interpelados por um homem aleijado que fora colocado à porta do templo para pedir esmolas. Os apóstolos olham para ele e Pedro pede que ele os olhe. “Pedro e João olharam bem para ele e, então, Pedro disse: Olhe para nós!”

Para mim, este pequeno verso é cheio de metáforas. Destaco pelo menos duas. A primeira está na atitude dos apóstolos de olharem para o homem que lhes pedia esmola. Um dos males praticados por nós, que vamos ao templo em busca de Deus, é o de pararmos de olhar para as pessoas. Buscamos Deus e ignoramos as pessoas! Que contrassenso! Se esquecemos as pessoas, nos perdemos de Deus. Se buscar a Deus faz com que nos sintamos “diferentes” dos demais, logo nos tornamos indiferentes aos demais. E isso está errado. Se buscamos Deus precisamos dar nossa atenção às pessoas. Precisamos enxergá-las. Pois Deus as vê e presta atenção a todos nós. Ele não é indiferente e não devemos ser. Especialmente para com os que sofrem. Pedro e João olharam bem para ele. Uma boa dose de atenção, de dedicação. Não somente isso, eles disseram ao homem: “olhe para nós!”. E está aí uma segunda metáfora possível. Pela condição do homem era natural que estivesse de cabeça baixa e olhos dirigidos ao chão, em indignidade e humilhação. Os apóstolos oferecem restauração ao olharem, falarem e pedirem que erguesse a cabeça. Eles não se fizeram maiores, mas iguais!

Se vamos ao templo para celebrarmos a Deus, devemos tratar melhor as pessoas, pois Deus as ama! Deus ama mesmo as pessoas de quem não gostamos. Nosso olhar para todas as pessoas deve ser de respeito, ainda que não concordemos com elas. Nosso encontro com as pessoas deve sempre, de alguma forma, produzir alguma restauração. É isso que se espera de quem frequenta um templo onde o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo é adorado. Essas são marcas de uma espiritualidade genuinamente cristã. Se não for assim, profanamos o templo, tornando-o um antro, uma gruta escura onde se ocultam seres perigosos. Se não agimos assim tornamos o templo um lugar perigoso para pecadores, quando deveria ser um lugar de esperança para todos os pecadores. Afinal, não há lugar mais seguro para nós que perto de Deus. Se, como eu, você vai ao templo, assuma a responsabilidade, agir na vida de maneira que o templo que frequenta seja mais digno por causa de sua presença. Pois, em verdade, não é Deus que santifica o templo. Somos nós, na medida que somos santificados por Deus.  O templo é a nossa casa de adoração e não a Casa de Deus. A Casa de Deus são pessoas, somos nós. Nós dignificamos o templo quando manifestamos lá a presença de Deus em nós!

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