O Resto

O Resto

Existe o certo, o errado e todo o resto. Conhecer o resto, após uma vida seguindo regras, com os pais, no colégio, na religião, com o cônjuge, onde vivemos influenciados pelas ideias que incutiram quando criança, passado lá onde não entra olho humano, no íntimo. Os sentimentos são, na verdade, mais como as estações do ano, vêm e vão. Esta viagem ao sul que fizemos, foram belas emoções vividas, mas que já se foram. No livro “O fio da Navalha”, de Somerset Maugham, tem uma descrição do passado como “uma vasta enciclopédia de fatos que você ainda pode sonhar ou sofrer”. Queria viajar no tempo até o passado para reviver partes da vida que tive prazer e não dor. Festas de aniversário quando criança; viagens, primeira paixão. A vida é sempre um recomeçar.

Uma hora atrás, eu estava numa viagem, agora, só há recordações, como uma garrafa de champanhe que alguém sacode, saí numa explosão e depois acaba. Se a minha vida é um romance cheio de capítulos chatos e empolgantes, dolorosos e engraçados, trágicos e românticos, agora está na hora de refletir sobre a chegada da página final que talvez se revele na velhice após os oitenta e cinco anos, fase que está minha mãe, em que os olhos não tem mais o mesmo brilho, os lábios virados para baixo, no tremor da voz, no nó que se forma na garganta. Não são ideias que tenho sobre está fase da vida, são sentimentos. Não se aprendem são trazidos pela passagem do tempo.

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