O Morto

O Morto

Lembrança antiga tinha vinte e dois anos, e tio Vadinho irmão de meu avô, faleceu do coração, em Queimadas. O velório era dentro de casa fui com meu pai e fomos dominados pelo cheiro, havia algo mais velho, adocicado e fedido, como lírios deixados num vaso com água por tempo demais.

O cheiro e a aparência dele, impossível resistir, seu belo rosto morto, olhos vidrados emoldurados por longos cílios, lábios carnudos retraídos exibindo dentes brancos e alinhados. Não entende porque vem à sua memória um episódio tão distante? Mas não se pode pedir a uma teia de aranha que escolha sua presa. Captura, quando captura, o que cai nela; mesmo que seja, como esta recordação. Nada fazia sentido com a morte de tio Vadinho, que deixou mulher e seis filhos era o mês de junho frio e chuvoso. A campina de sisal ficava toda verde. O rio itapicuro cheio. O dia custava a clarear neste dia do velório, e o gado mugia, angustiado durante todo o lento amanhecer enlutado.

O tempo não soava, não tinia, não ciciava, até que os passarinhos cantassem. Depois o trem, ao longe, veloz, ao compasso dos dormentes, talvez trazendo parentes que vieram de Salvador para o enterro, apitava, perdendo se na caatinga. Toda sensação de adeus que ficou em mim de tio Vadinho, não são mais que os cheiros dentro da casa, adocicado e fedido, como lírios deixados num vaso com água por tempo demais.

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