O meu cachorro

O meu cachorro

Muitas boas histórias com Keane, sua alegria, a forma como fez a família interagir melhor através do amor, nestes quatorze anos de convivência. Hoje vejo que deixa suas pálpebras fechadas a maior parte do dia, e quando acorda vive em uma nuvem de desorientação, distante da vida inquieta, imprevista, rica de acontecimentos que tinha.

Como se todas as recordações, de momentos vividos com cada membros da família fizessem parte de seu presente no silêncio da sua velhice. Sinto falta da sua juventude impossível. Nunca mais poderei ver as coisas “pela juventude dele”.

O tempo passou e a morte está próxima, como a escuridão da noite. O tempo é um filme que mostra a sua vida de trás para a frente. Nos olhos de Keane se acende de vez em quando uma faísca de felicidade. E, se não é felicidade, é de alegria. Amo o rosto dele da mesma maneira que amo o brilho da lua e a água fria e azul do mar. Sei que dentro de pouco tempo suas pálpebras estarão fechadas para sempre, e então os ruídos do mundo à sua volta acabam. Ondas de saudade nos atingirão, quase como as contratações de uma mulher em trabalho de parto.

Mas a vida universal é tão variada, as perdas estão em toda parte e a memória dos homens é tão frágil, mas nosso amor por Keane fica eternizado neste texto.

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