“Ao jejuar, ponha óleo sobre a cabeça e lave o rosto, para que não pareça aos outros que você está jejuando, mas apenas a seu Pai, que vê no secreto. E seu Pai, que vê no secreto, o recompensará.” (Mateus 6.17-18)
O jejum não é algo que conhecemos tão bem quanto os orientais. Muitos tem dificuldade de compreender seu propósito. Em muitos círculos religiosos transformou-se numa espécie de sacrifício para se obter uma benção. O jejum é feito com a finalidade de alcançar algo. Mas parece não ser essa ideia do jejum. A leitura dos evangelhos nos dá diversas pistas. Embora em nenhum momento encontremos nas Escrituras uma orientação e explicação sobre o jejum, podemos avançar na compreensão de seu propósito e com isso saber melhor como praticá-lo. O jejum é uma autonegação. Jejuar é dizer não a si mesmo de uma forma prática tendo como alvo uma necessidade autêntica e justa, de alimentar-se por exemplo. Ao fazer isso podemos aprender diversas lições para nossa vida e conduta, para crescermos na capacidade de dizer não a nós mesmos sempre que necessário. A prática do jejum pode servir para fortalecer nossa capacidade de escolher o que fazer com nossos desejos.
De certa forma, seria um fortalecimento de nossa tempera pessoal, de nosso caráter para sustentar a decisão de fazer o que é correto em lugar de fazer o que desejamos. Ele também pode representar nossa inconformação com algo e anseio por ajuda. O jejum também produz um estado diferente de atenção e sensibilidade. Misteriosamente, um exercício de elevação espiritual, que é a proposta do jejum, pela via do esforço e certo sacrifício físico, parece tornar o corpo um veículo mais apropriado para as experiências interiores e espirituais. Por isso ele não deve ser maculado justamente por aquilo que ele visa nos ajudar a superar: O egoísmo, a vida autocentrada, enfim, as mazelas e fraquezas da nossa carnalidade.
Os ouvintes de Jesus eram praticantes regulares do jejum, pois o Mestre ocupa-se de ajudá-los a evitar a contaminação de seu exercício espiritual. O jejum não deveria ser usado como autopromoção espiritual, para que as pessoas os considerassem piedosos e espiritualmente recomendáveis. Deveria, como a oração, ser algo entre a pessoa e Deus. Deveria acontecer sem que terceiros se dessem conta. Deveria ser ocultado por uma feição bem-disposta e alegre. Ninguém deveria saber e isso preservaria a condição necessária para que pudessem colher benefícios espirituais de seu esforço físico. Não sei se você jejua. Talvez deva. Negar a si, ficar mais em silêncio, orar mais e buscar mais a Deus. Mesmo seu corpo agradecerá e abrindo mão do alimento físico, talvez prove porções especiais do alimento espiritual.