O jardim de cimento

O jardim de cimento

Faz tempo que sabemos que a vida é algo frágil. Mas não esperava perder o chão nestes últimos anos. Mais do que tudo, não sabia que essa correnteza de incerteza flui em todo o país. Essa treva, essa miséria. Esse sentimento de impotência que se revela bruscamente no regime democrático nos colocando em xeque-mate com esta polarização talvez fruto de termos chegado ao fundo do poço. Com tantas perdas, com tanta dor na pandemia, minha compreensão do sofrimento mudou. Não havia vivalma na vasta Place de la Concorde, nem um único carro passava pela Champs-Elysees, o mais grandioso risco de trânsito da França.

Na cidade mais animada do mundo, podia se ouviria um alfinete cair. A imobilidade era estranha. Nos nunca nos sentimos tão sozinhos. O mundo caiu numa espécie de estupor. O que havia aprendido sobre Deus tinha ficado mais vivido e pessoal depois desta tragédia coletiva em tão pouco tempo. Mas minha fé não foi abalada, mas meu temperamento sim, ao que parece para sempre. Era como se um quarto aquecido tivesse esfriado de repente, embora ainda fosse o mesmo quarto.

Hoje a minha esperança, a minha raiva, a minha espera, a minha angústia se afirmam em minha aventura pessoal de vida. Mas o mundo exterior está ali, um mundo de som e fúria, o mundo tão repleto do contrassenso da guerra, da dominação incompreensível de uma doutrina absurda, da separação, da morte. Nós como nação não podemos ainda que por lampejos, evitar o sentimento de culpa ao deixarmos de agir a tempo.

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