Por Daniel do Valle / O Sollo
Itabuna tem o maior número de casos notificados entre adultos, seguida por Porto Seguro e Vitória da Conquista
Pedrão, São João Elétrico, época de muita música e curtição na Bahia, mas cuidado: pode existir um penetra no meio dessas festas. O vírus HIV, causador da Aids, continua por aí disfarçado e pode estar mais perto do que você imagina.
Na região sul do estado, Itabuna tem o maior número de casos notificados entre adultos, de acordo com o Portal de Vigilância da Saúde (Suvisa). Nos últimos cinco anos foram 320 confirmações do vírus. Porto Seguro e Vitória da Conquista também chamam a atenção, com 212 e 168 casos confirmados respectivamente. Eunápolis acumula 108 e Teixeira de Freitas 109 notificações.
De acordo com a diretora do Departamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs) de Porto Seguro, Beatriz Duarte, o aumento do número de casos na região está relacionado principalmente à maior facilidade de acesso aos exames e, sobretudo, ao sexo sem proteção. “Hoje existe a descentralização do diagnóstico e todas as unidades do PSF no município disponibilizam o teste do HIV. Mas o vírus e o sexo sem “camisinha” não devem ser banalizados”, alerta.
Beatriz Duarte também informa que as gestantes fazem o teste através do pré-natal e a comunidade conta ainda com o Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) itinerante, que vai até os bairros e eventos, realiza exames de sangue e campanhas educativas. “É só um furinho no dedo que alivia a consciência” lembra.
Banalização do sexo
Segundo pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde, com 12 mil pessoas em todo o país, 94% dos brasileiros sabem que a camisinha é a melhor forma de prevenir doenças sexualmente transmissíveis, como a Aids. Mas 45% dos entrevistados não usou preservativo nas relações sexuais casuais nos últimos 12 meses. A faixa etária entre 15 a 24 anos corre mais risco, já que o número de casos de portadores do vírus HIV aumentou 40% de 2006 até agora.
Praias, festas, álcool, drogas, juventude formam o cenário perfeito para muita curtição e é contagiante. Em Porto Seguro, muitos turistas perdem a censura e acham que está tudo liberado, até mesmo sexo sem camisinha. De férias na cidade, o mineiro Cauã Ribeiro (24) adorou as belezas naturais, mas confessa estar mesmo atrás da mulherada. “Sempre ando com preservativo, mas às vezes escapa”, admite o jovem.
Quebrando o tabu
Há 18 anos como portador do HIV, um dos pioneiros a aderir ao tratamento na cidade diz que conviver com o vírus é mais fácil que suportar o preconceito. Hoje com 41 anos, ele tem uma vida normal e descobriu o contágio através de uma doação de sangue para um parente hospitalizado.
“Receber o diagnóstico aos 23 anos foi como um atestado de morte. Mas graças aos cuidados e medicamentos eu nunca desenvolvi a doença (Aids). Conhecer outras pessoas portadoras do vírus e compartilhar experiências ajuda muito a aceitar o fato, que não deve ser compartilhado com qualquer um. No meu trabalho e na comunidade onde eu vivo, ninguém sabe. O preconceito infelizmente é inevitável”, aconselha.
Dose fixa combinada três em um
O Ministério da Saúde iniciou a oferta da dose tripla combinada desde o ano passado, o chamado três em um, que unifica os principais medicamentos usados por portadores de HIV e Aids. Atualmente, esses fármacos são distribuídos gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e os pacientes podem escolher entre o coquetel (vários comprimidos) e a dose única, de acordo com a adaptação ao organismo.
Para o farmacêutico Ismar Mendes, o principal ganho com o novo medicamento é a redução do número de pacientes que deixam de dar continuidade ao tratamento. “A dose fixa combinada facilita a ingestão e permite boa adesão e durabilidade do programa terapêutico. Antes o paciente chegava a tomar até 15 cápsulas ao dia,” ressalta.
Não é só no carnaval. Se tem festa, tem que ter preservativo. Mesmo com muito quentão, amendoim, canjiquinha, se não conseguir pular a fogueira, não se esqueça da camisinha.