O DIREITO A FAMÍLIA

“Disse, porém, Caim a seu irmão Abel: Vamos para o campo. Quando estavam lá, Caim atacou seu irmão Abel e o matou.” (Gênesis 4.8)

Logo após a narrativa da queda, ilustrando como o pecado entrou no mundo, segue a narrativa que nos apresenta a primeira família. Uma família formada pelo primeiro casal – Adão e Eva. E o que o texto sagrado nos conta não é nada bom: havia problemas, ao ponto de um irmão planejar e assassinar o outro. Tudo, desde o começo, ficou ruim por causa do pecado. Um pouco de atenção a esta narrativa nos levará a perceber que, por causa do pecado, nossas famílias não são naturalmente um lugar seguro. Elas podem produzir feridas, traumas, opressão e mesmo morte.
Não encontraremos nos relatos bíblicos nenhuma família exemplar, sem faltas ou problemas. Assim como não encontraremos em nossas igrejas famílias exemplares, incluindo a dos líderes, mesmo que chamem a si mesmos de bispos, apóstolos ou paipóstolos (que insanidade!!!). Somos pecadores e ferimos uns aos outros, mesmo aos que amamos e gostaríamos somente de abençoar. Nossa melhor chance está em nos comprometermos firmemente com o dever de amar e de sermos influenciados pelo Espírito Santo. Sem isso, que Deus tenha misericórdia de nossas famílias.

Logo, pergunto-me o que querem dizer os que se dizem “defensores da família”! Pode parecer que estejam afirmando que defendem um lugar seguro e saudável onde pessoas são formadas e desenvolvem-se capazes, boas e prontas a viverem e serem felizes. Onde a mulher, tantas vezes oprimida e ferida, é respeitada e valorizada. Onde o homem, facilmente seduzido pela performance profissional e nem sempre inspirado a uma vida guiada pelo amor, oferece aos seus mais abraços e encorajamento do que gritos e ausência. Mas, em média, a média das relações familiares, sendo otimista, não passa perto disso. Não é constituída por ambientes seguros e muito menos saudáveis.

Parece-me que essa defesa da família é, na verdade, um ataque ao direito de pessoas constituírem as suas próprias famílias de um outro jeito. É um movimento que nada faz, de fato, pela família, mas apenas pretende proibir que pessoas rompam com os formatos tradicionais, levantando a tese de que esse novo ambiente é por natureza nocivo ao desenvolvimento de uma pessoa. E fazem isso fechando os olhos para o fato de que a história da família tradicional, também está cheia de dor, abandono e violência. E que tudo que enfrentamos hoje na sociedade vem exatamente das famílias tradicionais, que sempre existiram e criaram os filhos que hoje a constituem.

Pode não parecer cristão a alguns, mas defender o direito das pessoas unirem-se e formarem suas famílias, mesmo que fujam ao padrão heterossexual, é uma atitude cristã. Pois esse direito é prioritário sobre as preferências, preconceitos ou mesmo certezas morais ou religiosas que possamos carregar. Esse direito é parte de uma sociedade democrática e defende-lo, além de democrático, é cristão, pois devemos amar o outro como a nós mesmos. Essas novas famílias não colocarão em risco as antigas. O que tem colocado e sempre colocará em risco uma família é o mal e o pecado que habita cada um de nós. E o lugar seguro para uma família, seja qual for, é torna-la um ambiente de amor a Deus e amor ao próximo.

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