O desafio de lidar com o ego

“Mas quando você der esmola, que a sua mão esquerda não saiba o que está fazendo a direita, de forma que você preste a sua ajuda em segredo. E seu Pai, que vê o que é feito em segredo, o recompensará.” (Mateus 6.3-4)

A religião dos judeus havia se deteriorado, tornando-se um palco de cenas que em nada lembravam o Deus que se revelou a Abraão, Isaque e Israel. Hipocrisia, orgulho e exploração caracterizavam os líderes. E eles olhavam com desconfiança para Jesus. Tudo em Jesus denunciava o desvio em que estavam afundados. Por isso as palavras duras do Mestre eram quase que exclusivamente dirigidas a eles. A justiça deles não era justiça. A piedade, apenas um jogo de luzes. Eram especialistas na letra e ignorantes quanto ao espírito da letra. Examinavam as Escrituras, mas recusavam-se a ir a Jesus para receberem a vida anunciada pelas Escrituras. Jesus se torna a voz que restaura os caminhos de Deus. Para que as pessoas não se perdessem seguindo os ensinos que eram apenas preceitos humanos.

Uma das práticas daqueles religiosos, como forma de satisfazer a fome que tinham por grandeza e honra, era tornar o mais público possível seus atos de bondade. E exatamente por isso não eram, de fato, atos de bondade. Eram atos de auto exaltação. Eram uma expressão de seu orgulho. Jesus então orienta seus discípulos e a todos que o ouvem para que escolhessem o anonimato como lugar de suas boas obras. Que não pretendessem colher benefício algum dos benefícios que fizessem a outros. O único expectador de seus atos de bondade deveria ser Deus, que graciosamente poderia recompensá-los. Do contrário o que teriam seria o louvor dos homens e nada mais. Jesus não estava ensinando como beneficiar-se, mas ensinando que a única bondade aceita por Deus é a que brota do amor que serve sem interesses ou vaidade.

Dois mil anos depois, as palavras de Jesus merecem nossa atenção. Os palcos ficaram maiores e as luzes mais coloridas. Todos devemos ter cuidado com nosso ego, especialmente os líderes e os que servem na liturgia do templo. Nosso talento deve honrar a Deus e não a nós mesmos. Nosso desejo por reconhecimento e retribuição devem ser colocados aos pés da Cruz de Cristo. Devemos dar um passo atrás, sempre que suspeitarmos que nosso ego dominou a cena. Devemos baixar a cabeça, pedir perdão e clamar por socorro. Não se orgulhe ao servir e beneficiar outros. Não busque honra ou pretenda ser citado ou reconhecido. Ofereça toda honra a Deus. Negue ao seu ego o alimento que o tornaria um risco à sua espiritualidade. E se algum mérito lhe for atribuído, se algum aplauso lhe for dirigido, se por alguma razão vozes de gratidão e louvor lhe forem dirigidas, lembre-se de não se alimentar delas. Seja grato, receba tudo com temor, alegre-se por ter sido útil e, assim que possível, ajoelhe-se e ore para se lembrar que é apenas um servo. E, então levante-se, pegue a bacia e a toalha e volte ao serviço.

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