O cristão e as escrituras

“Vocês estudam cuidadosamente as Escrituras, porque pensam que nelas vocês têm a vida eterna. E são as Escrituras que testemunham a meu respeito; contudo, vocês não querem vir a mim para terem vida.” (João 5.39-40)

Estas palavras foram ditas por Jesus aos religiosos judeus. Eles eram profundos conhecedores dos Escritos Sagrados. Mas veja o que Jesus disse: por não crerem nele, a vida que pretendiam encontrar nas Escrituras não poderia ser encontrada. Como temos lidado com as Escrituras? Que efeitos a leitura que fazemos dela tem trazido para nossa vida, para nossas igrejas? Nossa leitura e aprendizado tem nos tornado mais bonito como seres humanos? Tem fortalecido nosso papel e testemunho como cristãos? Lamentavelmente, em muitos casos não. Temos estado divididos como nunca! Parece haver entre nós um certo orgulho espiritual. Uma ideia de que somos os defensores da verdade e como tal devemos combater os que não se submetem, que fazem escolhas contrárias aos critérios revelados por nossa leitura. Esquecemo-nos que não somos seguidores de um livro, mas de uma pessoa. E qual a diferença?

Ser o seguidor de um livro nos leva a interpretar Jesus por meio das Escrituras. Não que tal interpretação seja imprópria, mas a ideia é justamente o contrário. É interpretar as Escrituras por meio de Jesus. Ele é a chave para compreendermos o sentido dos textos. As Escrituras nos levam a Jesus e ao nos encontrarmos com Jesus poderemos voltar às Escrituras para encontrar nelas os caminhos para nossa vida. Mas é possível também, nas Escrituras, acabarmos trilhando caminhos contrários à vida, por mais absurdo que possa parecer. Já foi assim no passado e não estamos livres de que seja assim no presente. Em nome de Deus e com base nas Escrituras muita injustiça já foi praticada. Crueldades foram justificadas, preconceitos sustentados, relacionamentos abusivos encontraram autenticação. Triste isso, mas é a verdade. E ainda hoje, pelo modo como leem as Escrituras, líderes são abusivos, pais se mostram cruéis na relação com seus filhos e cristãos corrompem na mente de não cristãos a imagem de Deus.

O seguimento a Jesus nos leva à comunhão com Deus, assessorados pelo Espírito Santo. Nesse seguimento, necessariamente aprendemos o caminho do amor, da misericórdia, da bondade. Restaura-se e amplia-se em nós a percepção do valor do ser humano e percebemos que, lembrando as palavras de Jesus, o sábado foi feito por causa do homem e não o homem por causa do sábado (Mc 2.27). Os ritos, os costumes e o templo tornam-se servos de nossa espiritualidade, e não o centro dela. Aprendemos a caminhar com as pessoas, aprender com Deus vendo-o exercer misericórdia e ofertar graça a outros pecadores. E com isso as Escrituras não perdem seu valor, elas ganham em significado, pois tendo ido a Jesus, encontramos nelas inspiração para a vida e os relacionamentos. Jesus perguntou a um mestre da lei: “Como você lê o que está escrito?” (Lc 10.26). O modo como lemos importa. Que nossa leitura testifique que já fomos a Jesus, que temos encontrado vida e por isso as Escrituras é instrumento e não arma em nossas mãos.

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