Minha mãe, hoje com oitenta e seis anos, que vê o fim da vida tão perto de seu rosto quanto o espelho diante do qual olha sua face. Observar minha mãe se preparando para a ausência de um futuro, uma mulher saudável, porém muito idosa, lidando com sentimentos provocados por esta próxima, a não ser o dia exato em que ela virá.
Nós envelhecemos, vamos perdendo a agilidade e a flexibilidade. É da vida. Mas, não venham me dizer que é bom. Não, não é! Para consolo, tem aquela história dos ciclos. Vivemos um novo ciclo, que também tem suas vantagens e beleza. Está certo, não vou reclamar. Cheguei até aqui de livre. Mas este ciclo está me parecendo rápido demais. Espero que minhas células e moléculas não se apressem.
Calma, temos pouco tempo aqui. Os cientistas calculam que, até hoje, mais de 100 bilhões de pessoas viveram debaixo do sol. Hoje, onde elas estão? Eu não vivi por milhares de ano da civilização e por milhões de anos do nomadismo. E sei que não estarei vivo depois, por outros milhares e milhões de anos. Coube- me esse pedacinho e já consumi 65 anos do meu quinhão e minha mãe 86. Oh, amigos, resta-nos pouco. Então, não vou me importar com o que não tem importância. Somos seres humanos existindo. É preciso continuar se apaixonando pela vida.