Maria e João acertaram, no primeiro dia de prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), 65 questões cada.
No entanto, quando os resultados oficiais foram divulgados, eles se surpreenderam: as notas eram diferentes, apesar do mesmo número de respostas corretas.
Isso acontece por causa do modelo matemático pelo qual o exame é corrigido: Teoria de Resposta ao Item (TRI).
Explicando de forma simplificada, é um método que busca priorizar a coerência no desempenho dos candidatos.
Se alguém acerta as questões mais difíceis, mas erra aquelas consideradas fáceis, provavelmente “chutou” as respostas.
Por isso, terá uma nota inferior à de um estudante que acertou as fáceis, mas errou as mais complexas.
“Diferentemente da teoria clássica, em que só é considerado o número de acertos, o TRI tenta descobrir quem está realmente preparado para a prova”, explica Daniel Perry, diretor do Anglo Vestibulares. “O objetivo principal é identificar a consistência nas respostas e beneficiar quem estudou.”
A prova é preparada com perguntas pré-classificadas como fáceis, médias e difíceis.
“O esperado é que o candidato tenha um desempenho melhor nas mais simples. O TRI faz uma análise estatística, ‘antichute’, para calcular uma nota final que indique se houve coerência nas respostas“, afirma João Pitoscio Filho, coordenador de química do Grupo Etapa.
O diretor do Anglo dá um exemplo didático: supondo que haja, no Enem, uma questão sobre quanto é 3 vezes 2. O candidato erra e responde 5, em vez de 6.
Outra pergunta pede que o aluno calcule a área de retângulo cuja base meça 3 e a altura, 2. Ele responde corretamente: 6. Pelo TRI, mesmo acertando a pergunta mais difícil, ele não pontuaria.
Isso porque, se ele não conseguiu efetuar a multiplicação da primeira questão, não teria como saber a resposta da segunda. Ou seja: provavelmente, “chutou” a resposta.
Para que existe o TRI?
O TRI apresenta as seguintes vantagens em relação ao método clássico de correção:
- ao detectar os famosos “chutes”, ele premia o aluno que, de fato, se preparou para a prova;
- possibilita a comparação entre candidatos que tenham feito diferentes edições do exame;
- torna mais improvável que dois concorrentes tirem exatamente a mesma nota – já que o resultado final é divulgado com duas casas decimais (816,48 pontos, por exemplo).
Como se dar bem com o TRI?
Uma tática é começar pelas questões que pareçam mais fáceis para o candidato.
“No início, ele vai estar mais descansado e poderá garantir o acerto dessas perguntas que demandam menos esforço. O risco de errar diminui. Depois, pode partir para as mais trabalhosas”, sugere Pitoscio.
Mas é claro que cada um deve encontrar sua melhor forma de administrar o tempo da prova.
O importante é entender que, ao “chutar” uma resposta, o aluno não perde pontos – apenas deixa de ganhá-los.
Fonte: G1