“Então alguns fariseus e mestres da lei, vindos de Jerusalém, foram a Jesus e perguntaram: Por que os seus discípulos transgridem a tradição dos líderes religiosos? Pois não lavam as mãos antes de comer!” (Mateus 15.1-2)
Todos somos afetados e lidamos com tradições. Elas dizem respeito ao modo como nos ensinaram a ver e a fazer as coisas. Nossas tradições, portanto, afetam nossa maneira de pensar, de compreender a vida e de nos relacionar com o mundo à nossa volta. As tradições religiosas, em especial, merecem nosso cuidado. Os religiosos judeus estavam escandalizados e ofendidos porque a tradição de lavar as mãos não estava sendo respeitada pelos discípulos de Jesus. Ela era uma didática rabínica para ensinar o cuidado com a pureza, mas havia se tornado uma regra com valor em si mesma. O seu propósito foi perdido de vista. Seu valor passou ao próprio ato de lavar as mãos.
Dentre outras coisas, Jesus aproveitou a ocasião para resgatar o que haviam esquecido, apontando para o que a tradição deveria significar, mas que não estava significando. Lavar as mãos não era o que deveria preocupá-los como se fosse isso, esse ato, o que Deus estivesse pedindo. O valor era a pureza, a pureza interior, que deveria ser cultivada. Lavar as mãos havia perdido sua eficiência didática. As tradições tem limites de validade. Por isso, naquele caso, em lugar de produzir pessoas mais puras, passou a produzir pessoas mais duras. Quem não lavasse as mãos era objeto de sua repreensão e desaprovação. Mas o que tão seriamente observavam naquela tradição, era profanado pelo por suas atitudes, comportamentos e intenções. Faltava a retidão interior, a pureza de que a tradição falava. Nossas tradições podem seguir este mesmo fluxo em nossas vidas. Em lugar de nos refinar espiritualmente, podem nos tornar mais carnais e duros. As nossas tradições também podem perder o sentido. E normalmente, quanto mais somos apegados a elas, menos elas serão o que deveriam ser para nós.
A espiritualidade de todos nós é marcada por tradições. A maioria de nós fecha os olhos para orar e isso é uma tradição. Muitas vezes ficamos em pé para ler as Escrituras. Isso também é uma tradição. Costumamos separar o domingo como o dia das nossas reuniões. Esta também é mais uma tradição. Como reagimos quando uma tradição que valorizamos é tocada? Julgamos que tal coisa ofende a Deus ou somos capazes de entender que apenas nos incomoda, pois é nossa tradição? Entendemos o lugar que elas devem ter em nossa vida e o que precisamos aprender com elas? Elas nos refinam ou nos endurecem? Nossas tradições são importantes mas são apenas expressões de nós mesmos. Elas não são sagradas. Toma-las como se fossem sagradas, inegociáveis e como se fossem a única forma de expressar da vontade de Deus, é pecado. Pois isso nos endurece e nos torna pessoas menos capazes para amar e servir. Tenhamos cuidado. Que nossas tradições sejam apenas o que são: tradições. Que aprendamos o que elas pretendem nos ensinar. Que elas não nos endureçam. Que sejamos mais amáveis e sirvamos mais.