Por Sinnédria dos Santos Dias
A cada dia observamos a descrença da sociedade a tudo que é governamental, público ou auxiliar do que é público. A Advocacia não passa imune por esse vendaval de descrença e desencantamento. Talvez como li há alguns dias atrás, a desconfiança em relação à classe advocatícia se dê devido às más propagandas dos filmes americanos onde são mostrados com freqüência Advogados que agem como aves de rapina e de forma antiética. Pode ser, mas por outro lado, creio que devemos perguntar a nós mesmos: Qual a parte que me cabe neste bolo? Até que ponto essa desconfiança não se deve à minha conduta como profissional?
Às vezes vemos que há colegas, que são pessoas extremamente honestas, pessoas éticas, de boa formação familiar e que estão na advocacia por vocação e sacerdócio, porém, no seu agir, acabam por darem a maldosa impressão de que não o são. Seja porque evitam os clientes, para talvez não dar àqueles notícias desagradáveis, seja por sobrecarga de trabalho, ou na maior parte do tempo, tal fato é apenas por não terem nenhum dado novo para seu cliente, que insistentemente ainda acredita que é o Advogado que movimenta o processo e não o Judiciário. O fato é, começam a fugir dos clientes, a ignorá-los. A partir daí, sem o saber, começam a se espalhar dúvidas sobre sua honestidade, sobre sua integridade, sob a qualidade de seus serviços.
Sou da opinião de que todo profissional, em qualquer que seja sua área de atuação deve cuidar do seu bom nome. Ao Advogado então, isso se faz extremamente necessário. No quadro atual, isto se faz extremamente necessário, pois é costumeiro abrir os jornais e se ter notícias de advogados* sendo presos por se envolverem diretamente com o tráfico de drogas através dos que eram seus clientes, lemos sobre advogados se envolvendo em negociatas com delegados, com agentes de polícia, lemos sobre advogados envolvidos em esquemas de corrupção e lavagem de dinheiro e vemos tantas outras situações. Basta abrir um jornal ou um site jurídico para vermos a atual realidade da profissão. O descrédito é grande, a desconfiança imensa. Por isso a necessidade ímpar da honestidade, mas não somente a honestidade camuflada, inibida, como se ser honesto fosse motivo de vergonha, mas sim, a honestidade pública, clara e transparente.
A História relata o que terá tido lugar no primeiro dia de Maio do ano 62 a.C. Nesse dia festejava-se a Bona Dea (“a boa deusa”) em casa de Júlio César, recentemente eleito Pontifex Maximus (Sacerdote Supremo). Tradicionalmente, o acesso a estas festas estava reservado às mulheres. Pompéia Sula, segunda mulher de Júlio César, era a jovem e bela anfitriã do que era conhecida como uma orgia báquica reservada ao sexo feminino. Nesse ano as festividades acabaram em escândalo: Publius Clodius, jovem nascido em berço de ouro, mas conhecido pela sua insolência e audácia, estando apaixonado por Pompéia, não resistiu. Disfarçou-se de tocadora de lira e introduziu-se na tão reservada celebração. As coisas correram mal a Publius Clodius que acabou por ser descoberto por Aurélia, mãe de César, sem usufruir da bela Pompéia.
O escândalo correu por Roma o que levou César a divorciar-se de Pompéia. Publius Clodius foi acusado de sacrilégio e julgado em tribunal. O povo adorava Clodius e César, chamado a depor como testemunha, disse que nada tinha contra Clodius, nem nada sabia contra o suposto sacrílego. Foi o espanto geral entre os senadores que perguntaram: “Então porque se divorciou da sua mulher?”. A resposta tornou-se famosa: “A mulher de César deve estar acima de qualquer suspeita”.
Poderíamos dizer: “À mulher de César não basta ser honesta, tem que parecer honesta”. Nós Advogados, se quisermos nos destacar do emaranhado de desconfiança que norteia a classe, teremos que ter claro em todos os nossos atos que, nós somos a mulher de César.
*Acreditamos que nem todos profissionais do direito devem ostentar o título de Advogado, título esse que deve ser reservado aos que dignificam a profissão.