Hamilton Farias de Lima
Professor universitário.
Nos Enlevos da Primavera a Florir
“Sejamos como a primavera que renasce cada dia mais bela… Exatamente porque nunca são as mesmas flores. ” Clarice Lispector, (1920-1977).
Eis chegado setembro que sucede agosto – o mês aziago, dos desgostos, desatinos e eventos outros -, de memórias trágicas da recente historiografia brasileira que aponta, a partir dos anos 50 do século passado, recorrentes tragédias e convulsões envolvendo a sociedade e políticos brasileiros.
De Getulio Vargas aos dias atuais, agosto apresenta-se assustadoramente fatídico, tantas as ocorrências nele registradas, quem sabe a promover cada vez mais o mito e sustentar a tradição na perspectiva de que “a bruxa” no período está solta, a exemplo do impeachment recentemente ocorrido.
Da rica sabedoria popular, há uma lição disponível a todos, através dos ensinamentos contidos na expressão de que “não há mal que tanto dure, nem bem que nunca se acabe” e, mais ainda, associando às mudanças políticas e sociais brasileiras à chegada da primavera que se avizinha, a partir de setembro!
Ei-la surgente como a estação das flores, que cobrem os campos de beleza e, também, do renascer da fauna e flora, da multiplicação das espécies que dão continuidade à vida e a esperança de um amanhã melhor, fazendo-se aceita e referenciada sem nenhuma contestação. Aliás, por tudo que representa, é muito mais uma verdadeira celebração à vida!
No ciclo existencial a que todos estão submetidos a primavera representa o novo, o ressurgir, para a continuidade e perpetuação da vida, do construir o amanhã e vivenciar novos tempos, com alegria primaveril e, na condição de cidadãos, com harmonia social porque sem esta pouco ou nada se realiza socialmente a contento.
Nos livros escolares, desde o ensino fundamental ou na literatura nacional, o Brasil é apresentado como o gigante tropical, rico de potencialidades e de riquezas que o situam entre as principais nações do globo; não à toa, Jorge Ben sabiamente compôs e cantou: “Moro num país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza!”
Por que então não se olhar um pouco mais para o futuro, num renascer para novos tempos, aqui lembrando o poeta Olavo Bilac (1865-1918) em sua obra “A Pátria”:
“Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste!/Criança! não verás nenhum país como este! /Olha que céu! que mar! que rios! que floresta!/ A natureza, aqui, perpetuamente em festa,/É um seio de mãe a transbordar carinhos./Vê que vida há no chão!/ vê que vida há nos ninhos,/Que se balançam no ar, entre os ramos inquietos!/Vê que luz, que calor, que multidão de insetos!/Vê que grande extensão de matas, onde impera/Fecunda e luminosa, a eterna primavera!/Boa terra! jamais negou a quem trabalha/O pão que mata a fome, o teto que agasalha…/Quem com seu suor a fecunda e umedece,/vê pago o seu esforço, e é feliz, e enriquece!/Criança! não verás país nenhum como este:/Imita na grandeza a terra em que nasceste!”
A sociedade brasileira, de há muito, está a reclamar por novos tempos; do viver com respeito à coisa pública e da construção de uma sociedade não apenas calcada em bens materiais com atendimento às suas instancias mínimas de desenvolvimento e bem estar coletivo, mas, igualmente e, sobretudo, com ética e moralidade. Assim, que o arrebatamento da primavera a florir e sua alegria possam contribuir na formação de um Brasil cidadão!