Lago de Sobradinho, maior da região, tem menos de 6% da sua capacidade. Com água escassa, país gasta mais usinas térmicas.
O que não para de cair é o nível dos reservatórios de água do Nordeste. Lá, eles caíram para um nível mais baixo do que no ano passado. É a pior seca em 83 anos. Na Barragem de Sobradinho, a maior da região, a situação é crítica.
Na zona rural de Medeiros Neto, Dona Maria dos Reis não vê água na torneira há mais de um mês. “Muito quente, e a gente tomando banho aí com pouca água. Para beber a gente tem que comprar água mineral”, diz a aposentada.
A barragem que abastece a comunidade secou. Quando o caminhão-pipa quebra no meio do caminho, então, os moradores têm que se virar como podem. “Pegando ela de pouco a pouco, lava uma roupa, lava uma vasilha, toma um banho. Somos nós que controla aí”, afirma a lavradora Maria da Silva.
No norte do estado, a situação também é crítica. O Lago de Sobradinho, maior reservatório de água do Nordeste e principal gerador de energia elétrica da região, está com o nível de água ainda mais baixo. Caiu para menos de 6% da sua capacidade total, o que prejudica diretamente o abastecimento e a captação de água para a agricultura, afetando ainda mais a população que vive às margens do lago.
A vazão do reservatório de Sobradinho está em 900 m³/segundo, um número bem menor que o volume normal e mais baixo até do que a vazão durante o racionamento de 2001.
O Operador Nacional do Sistema Elétrico diz que essa é a pior situação de Sobradinho nos últimos 83 anos. E que nesse ritmo, a barragem pode entrar no volume morto entre novembro e dezembro. Segundo o ONS, o reservatório vem sendo usado basicamente para o abastecimento de água e quase nada para a geração de energia.
E a crise hídrica vai muito além de Sobradinho. O nível dos reservatórios do Nordeste vem caindo nos últimos anos. Este mês, o volume despencou para 10,6% da capacidade total.
Quase mil municípios da região decretaram situação de emergência por causa da seca. Os estados mais afetados são a Paraíba, o Piauí e o Rio Grande do Norte.
Os números do consumo dão uma dimensão do impacto da seca na vida das pessoas. Em Salvador, por exemplo, uma cidade que não sofre com a falta d’água, a média diária de consumo por habitante é de 250 litros, segundo a companhia de abastecimento. Já nas cidades maltratadas pela estiagem, a realidade é bem pior. Em algumas delas, essa média por habitante chega a ser de 20 litros por dia.
É o caso de Quixeramobim, no sertão do Ceará. Desde o início do mês, quando um reservatório que abastece o município secou, 70% das casas vêm sendo abastecidas por caminhões-pipa. Quando a água chega, é uma disputa.
“Dá para um dia, dá para dois, depende do que eu conseguir pegar”, diz uma mulher.
“A gente tem que se conscientizar que nós estamos em um momento de anormalidade, que a gente tem que viver, infelizmente, com menos água do que vivíamos”, afirma o tenente Cleiton Baston, da Defesa Civil.
Energia mais cara
Com a água cada vez mais escassa, o Brasil está gastando energia mais cara, que vem das usinas térmicas. É por isso, que a bandeira vermelha não sai da conta de luz todo mês. O governo prometeu reduzir essa conta desligando 21 usinas térmicas. Desligou, mas não adiantou.
Dois meses depois de desligar as usinas térmicas mais caras, o que aconteceu? As outras usinas passaram a produzir mais.
Em julho, antes de desligar as usinas, a produção era de: 12.539 MW. Depois, em agosto, subiu para12.872 MW. Em setembro, pulou para quase 14 MW.
E outubro nem terminou e a produção das térmicas já ultrapassou os 12.600 MW. Para reduzir essa conta, vai depender de São Pedro. O período de chuva começa em novembro, mas se a seca continuar, a conta de luz vai ficar ainda mais cara no verão.
G1 BA