Uma pesquisa divulgada há dois anos, realizada pela AVG, empresa de segurança on-line, mostrou que, à época, 42% dos filhos entrevistados se sentem trocados pelos pais por smartphones.
O estudo Digital Diaries entrevistou pais e seus filhos com idades entre 8 e 13 anos. Em um total de 6.117 participantes de países como Austrália, Brasil, República Tcheca, França, Alemanha, Nova Zelândia, Reino Unido e Estados Unidos, 316 são brasileiros.
A pesquisa mostra que mais da metade (54%) das crianças acha que os seus pais checam demais os smartphones e que o maior problema em relação a isso é que eles se distraem durante conversas com os filhos, fazendo com que 32% deles se sintam desprezados.
Os brasileiros são os que mais utilizam smartphones e tablets em excesso, pois 87% dos filhos relatam o descontentamento com a distração. Em relação aos pais, 59% deles admitem usar os aparelhos quando estão dirigindo. Cerca de 56% das crianças disseram que, se pudessem, confiscariam todos os dispositivos dos pais.
Entre os piores hábitos do uso do smartphone, em primeiro está a distração durante conversas. Metade das crianças concorda que os seus pais fazem isso e 74% assumiram que também fazem.
Sobre o uso dos aparelhos durante o jantar, 48% dos pais assumem usar, 19% das crianças concordam e 47% dizem também ter esse hábito.
Cerca de 21% das crianças dizem que os pais passam mais tempo com o smartphone do que com elas e 56% dizem que, se pudessem, confiscariam um aparelho: 54% escolheriam o celular da mãe e 44% o do pais.
Pais que usam muito o celular podem ter filhos com problemas de comportamento
Ano passado, Pesquisadores da Universidade de Michigan e da Universidade do Estado de Illinois decidiram avaliar este uso excessivo do celular com a birra das crianças em um pequeno estudo, publicado na revista “Child Development”.
Para fazer a análise, os pesquisadores levaram em conta questionários respondidos por pais e mães de 170 famílias. Esses pais foram questionados sobre seus hábitos de uso de smartphones, tablets, laptops e outras tecnologias e sobre como esses equipamentos atrapalham momentos em família, como refeições, conversas, brincadeiras e outras atividades.
Os resultados do estudo sugerem que, ao interromper momentos em família para checar mensagens ou navegar em redes sociais, os pais podem estar contribuindo para um maior risco de problemas de comportamento nas crianças, como birras, manhas e hiperatividade.
Uma das autoras do estudo, a pediatra Jenny Radesky, observa que, apesar de indicarem essa associação, os resultados não permitem estabelecer uma conexão direta entre o uso da tecnologia dos pais e o comportamento dos filhos.
“Sabemos que a resposta dos pais aos filhos muda quando eles estão usando tecnologias móveis e que o uso desses equipamentos pode estar associado com interações não muito adequadas com suas crianças”, diz Jenny. “É realmente difícil alternar a atenção entre todas as informações importantes que vêm desses equipamentos com a informação emocional e social de nossos filhos, e processá-las de forma eficaz e ao mesmo tempo.”
Veja algumas recomendações da pediatra Jenny Radesky para os pais evitarem que as tecnologias prejudiquem a relação com os filhos:
– Planeje momentos em família “desconectados”: pode ser a hora do jantar, a hora de dormir ou quando os pais encontram os filhos após o trabalho. Determine períodos em que os celulares ficarão desligados ou longe do alcance.
– Monitore seu tempo de uso do celular: existem aplicativos desenvolvidos especialmente para isso. Avaliar esses dados pode indicar em quais momentos do dia o uso de equipamentos é exagerado.
– Entenda em quais momentos o uso do celular é mais estressante: se ler as notícias ou checar os e-mails do trabalho são atividades estressantes para você, a melhor opção é fazer isso longe das crianças ou em um momento em que os pequenos estão ocupados. Assim, os pais evitam de interagir com os filhos em momentos de estresse.
E hoje? Será que os números apontariam um cenário diferente no Brasil, onde pesquisas de abril de 2017 direcionavam para um smartphone por pessoa? Possivelmente, o cenário atual é ainda pior a se considerar a frequência com que pessoas checam o WhatsApp, a rapidez com que respondem mensagens e a necessidade de uma vida cada vez mais “on”. Entretanto, é preciso resgatar os momentos em comunhão com a família, definir que as melhores coisas da vida ocorrem quando você está “off” para o celular e conectado com todos que você ama, numa troca de contato (físico).
Compilação Canaltech, Revista Cláudia online e Gazeta online