Morrer

Morrer

Às vezes leio a coluna de “falecidos” do jornal A Tarde, quantas mortes diariamente. Olha, se há uma pessoa que não deseja “ir”, sou eu. Agarrar-me-ei a tudo que possa prender- me a vida para não ir. Morrer é muito feio para quem está vivo. É capitular. Mas morre tem uma vantagem, sendo não precisar de mais ninguém e de nada. Depois da morte existe a independência. Antes, o dinheiro, o amor, a força física. O morto é autossuficiência. Se os sapatos não estão engraxados, que importa? E chegam as pessoas para o velório.

Nenhuma está irremediavelmente infeliz. Todas marcaram encontros, combinaram negócios. Todas têm amanhã e, infalivelmente, é nos amanhãs que os mortos são esquecidos. E quanto mais esquecido, mais livre, mais forte, mais independente o morto. Algumas pessoas mandam escrever que “comunicam o falecimento do seu inesquecível”. A palavra realmente inútil do vocabulário: “inesquecível”. Nada, ninguém é inesquecível. A própria dor física, que abrange o homem e o transforma numa criatura sofredora, é esquecida tão logo a morfina comece a fazer efeito. O alívio, a transição entre a dor e a anestesia, até que faz prazer. Quando morrer não quero que me chamem de “inesquecível” A mim que, em vida, fui tantas vezes esquecido e tantas vezes supliquei que lembrassem, não me chamem jamais de “inesquecível”.

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