Morador de rua que deu nome de irmão à polícia é libertado na Bahia

 

Homem surpreendeu família quando libertado nesta quarta-feira de presídio.

Ele visitou irmão que ficou preso por 84 dias pelos crimes que não cometeu.

O baiano Romário Alves Maciel, que passou 84 dias preso por engano, reencontrou o irmão que deu o seu nome em uma ocorrência policial, o colocando na prisão, na tarde desta quarta-feira (25), em Cidade Nova, bairro de Salvador. Rosemário Alves Maciel cumpria pena no Presídio de Salvador, localizado no Complexo Penitenciário da Mata Escura, e deixou a unidade nesta tarde. Na sexta-feira (20), ainda preso, Rosemário pediu que dois ex-penitenciários libertados fossem à casa do irmão para pedir perdão pelo o que aconteceu, depois que assistiu a repercussão do caso na imprensa.

De acordo com a Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização da Bahia (Seap), Rosemário Alves Maciel saiu do presídio por volta das 14h30 com pedido de liberdade provisória atendido pela Justiça. A família acredita que ele não tem advogado particular e que deve ter sido defendido pelo Ministério Público da Bahia ou Defensoria Pública estadual, mas os órgão ainda não foram localizados. Ele estava preso desde janeiro de 2011.

Com a liberdade, ele foi encontrar o irmão Romário Alves, que disse estar bastante emocionado e esperar um futuro diferente para o irmão. “A emoção é muito grande, estou alegre porque ele está solto também. Espero que ele mude de vida e não faça mais as coisas que ele fazia”, afirma. Romário diz que seu irmão era morador de rua, usuário de drogas e não sabia que seu paradeiro até o contato dos ex-detentos.

Romário conta que, logo que deixou a cadeia, o irmão foi ver um tio que trabalha na feira de São Joaquim e, em seguida, foi para o bairro de Cidade Nova, onde encontrou os familiares. A família não sabia que Rosemário seria libertado e todos foram surpreendidos nesta quarta. De acordo com Romário, Rosemário Alves disse que usou o seu nome porque estava “limpo” e, na época, estava sendo ameaçada de morte e perseguido. Depois de encontrar os familiares, Rosemário deixou o local sem dizer para onde iria, porém queria “tirar o peso da cadeia”, conta Romário. O G1 não conseguiu contato com Rosemário Alves. A família não sabe se Rosemário tem defesa particular.

Prisão por engano

Romário foi preso no dia 25 de abril deste ano, após a ex-mulher registrar queixa contra ele. Na unidade policial foi constatado que havia pedido de prisão preventiva em aberto por roubo em seu nome. Até a comprovação da troca de nomes, eles ficou detido na 18ª delegacia, na cidade de Camaçari. Romário ficou sabendo que o irmão já estava preso na tarde de sexta-feira, 20 de julho, após o irmão lhe enviar um recado através de dois ex-presidiários que cumpriam pena junto com ele.

Antes do irmão ser libertado, a vítima do engano disse que o perdoaria e que pretendia visitá-lo no presídio. “Os seus colegas disseram que ele pediu desculpa por ter assinado meu nome e que pediu para a gente visitar ele. Eu perdoo e entendo o que ele fez. Acho que ele não tinha opção, estava com medo de dizer o nome dele e morrer por causa dos roubos que fazia, foi o que os homens que vieram dar o recado dele disseram para mim. Creio que ele não pensou direito no que estava fazendo”, afirma.

Vida fora do presídio

Romário conversou com o G1 por telefone na tarde de terça-feira (24) e disse que ainda não retornou ao trabalho porque está descansando um pouco após a saída da prisão. “Estou aproveitando para tomar um banho de sol aqui com uns amigos, tirar a ‘inhaca’ da cadeia. Meus patrões acreditaram em mim. Quero comprar um terreno, fazer uma casa, dar um futuro melhor aos meus filhos”, planeja.

O advogado de Romário, Márcio Magalhães, disse ao G1 que tomou conhecimento de que o irmão do seu cliente estava preso também na sexta-feira (20). “Ficamos sabendo depois da soltura dele [Romário], um oficial de Justiça ligou para mim informando”, disse.

Delitos

Segundo o advogado, Romário foi preso sob a suspeita de roubar um celular, R$ 5 e US$ 1, crime que teria sido cometido pelo irmão dele, Rosemário Alves Maciel, no início de 2011. “Já foi protocolado o pedido de revisão criminal para buscar absolvição ou anulação do processo e para que o estado reconheça que cometeu erro contra ele e dar direito a uma indenização”, afirmou. Márcio Magalhães disse que só após o posicionamento do estado poderá pedir uma indenização.

Romário ficou preso na Delegacia de Camaçari. Mesmo depois da ficha do irmão ser analisada pela polícia, ele permaneceu preso. A família começou uma luta para provar a inocência. O jovem diz que o irmão dele é analfabeto e, por isso, não pôde assinar o nome que teria dado, o de “Romário”, apenas colocou as digitais. “Eu dou graças a Deus porque se ele tivesse assinado o meu nome as coisas seriam mais complicadas”, relata.

A constatação da inocência foi permitida através da comparação das digitais, realizada no mês de junho. “Ficou comprovado que o furto quem fez foi o meu irmão”, disse. A Polícia Civil, através da assessoria de imprensa, afirma que ocorreu “mal-entendido”, desvendado pelo advogado da vítima, investigado pela polícia e atendido pela Justiça. Romário foi solto no dia 19 de julho.

De acordo com a Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização da Bahia (Seap), o irmão de Romário, Rosemário Maciel, está preso desde janeiro de 2011 sob a suspeita de roubar um celular no início do mesmo ano. A Seap afirma que esse não é o mesmo crime pelo qual Romário foi preso.


Fonte: G1

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