Mitológica epopéia: a narração do caos supremo (poema)

Por Pedro Ivo Rodrigues

Mitologicamente é o fio do destino nesta vida.

Poucas e cerimoniosas manifestações do desagravo da

flora e da fauna das idéias brilhosas e errantes,como pedras

que rolam de um despenhadeiro.Hera jaz no Hades,enquanto

Persépole descansa com seus papiros na folha caída.

II

Espiral de guerras e queda de governos, a pitonisa viu nos

olhos de jade da estátua profana a morte da filosofia,a destruição

dos cinco guardiões das portas de cobre do templo de Hefestos.E

o mar?Revolto e resoluto, tomba suas ondas contra a praia dionisíaca

das satisfações passageiras,porque para o salitre as pessoas são grãos

perdidos no areal.Nas profundezas da areia da praia,contam-se histórias

de vida, moléculas de quartzo,pequenas criaturas e origem de tudo,en-

quanto razão desconcertada e iniludível.

III

De tudo que os ouvidos registram, carapaças de moluscos, sobram

apenas os ruídos da magia,porque o real não habita a mortandade.Cons-

ciência.Oh!Sublime mãe dos destinos planejados, das metas distantes e

do equilíbrio dos argonautas!Dar-te-ei a passagem de trem ao poeta, ao

indisfarçável canto das trevas tépidas e inflamantes,das tristezas cinzen-

tas e dos padrões arrancados do pedestal.Visionário do além mar e do

além dia,do acorrentamento de eras e das janelas para o limbo das mer-

cês;dos orvalhos refrescantes da manhã beltraneja e do tempo descon-

tente em que os dias eram fotografados na cor de marfim.

IV

Se pudesse Pan tocar a história do hedonismo, diria que o prazer é

a dor embriagada com vinho das uvas de Atenas;dos olhos brilhantes

de pupilas dilatadas das moças silvestres,das pastoras de gerações e ma-

tronas das tradições enferrujadas pela chuva da metafísica.A chuva mate-

mática, condizente e contida,que anuncia o prelúdio do eclipse final,da ca-

pa jogada nos confins do planeta,repetindo a aventura do universo e de

seus navegantes.

V

Morte a tudo que é banal!Viva o grito da liberdade proterozóica!

Mais antiga que o primeiro pensamento, testemunha ocular dos vômitos

irados de Vulcano,da verdade primeira da genealogia do mundo!

05/06/2002

*Do livro “Estilhaços de Sonhos Perdidos no Vazio da Existência”, publicado em junho deste ano.

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