Minha mãe

Minha mãe

Neste final de ano, faz quatro anos e meio do falecimento de meu pai. Minha mãe, hoje com oitenta e seis anos, não há “story”. O único assunto é o novo período de sua vida, após a morte dele, no qual, de repente, ela entra.

Quando meu pai estava ao seu lado, ele estava ao mesmo tempo diante dela, no horizonte de seu tempo; agora, o horizonte está vazio; a vista mudou.

No início, ela pensava inteiramente na morte, desconcertada pelo fato de a memória trazer para o seu pensamento as lembranças da vida a dois.

Esforça-se em rever todas as paisagem nas quais outrora estavam juntos; consegue ver os momentos juntos, mas ele, nem mesmo de modo fugaz, jamais reaparecerá ali. Quando olha para trás, sua vida não tem coerência; encontra apenas fragmentos, elementos isolados, uma sucessão incoerente de quadros…

O desejo de dar uma justificativa posterior a acontecimentos esparsos pode enganar aos outros, mas não a si mesmo. Nessa nova perspectiva, o passado aparece em toda a sua irrealidade; e o futuro? Claro, é evidente, o futuro não tem nada de real. Assim, lado a lado, o passado e o futuro se distanciam dela. Tudo converge para o presente e termina no presente, e ele é doloroso.

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