No dia 17 de outubro, o jornal britânico The Guardian, publicou uma extensa matéria cujo título traz uma indagação que deveria ser a dos brasileiros (ou é, mas, abafam?): “Acusado de corrupção, popularidade perto de zero – por que Temer ainda é presidente do Brasil?”. Confira, abaixo, uma compilação da reportagem traduzida.
“Se o recente declínio do Brasil pudesse ser conspirado na queda da popularidade de seus presidentes, Michel Temer representa o fundo da curva.
Em 2010, Luiz Inácio Lula da Silva terminou seu segundo mandato com uma classificação de aprovação de 80%. Em março de 2016 – quatro meses antes de ser acusada – a administração de sua protegida e sucessora Dilma Rousseff tinha uma classificação de 10%.
No mês passado, o governo de Temer, o ex-vice-presidente de Rousseff, mergulhou em 3% em uma pesquisa. Entre os menores de 24 anos, a aprovação de Temer atingiu zero.
Temer foi acusado de corrupção, agressão e obstrução da justiça . No entanto, não houve nenhum dos imensos protestos de rua contra a corrupção que ajudaram a impulsionar o impeachment de Rousseff sob as acusações de quebrar as regras de orçamento.
E, ao contrário de Rousseff, Temer manteve o apoio dos mercados financeiros que gostam das medidas de austeridade que ele introduziu, como a privatização dos serviços governamentais, um limite de 20 anos nas despesas e uma revisão planejada das pensões.
Os críticos dizem que a unidade de austeridade de Temer prejudica os pobres mais do que os ricos. De acordo com uma pesquisa da Oxfam Brasil, os brasileiros mais ricos pagam proporcionalmente menos impostos do que as classes pobres e médias e os 5% mais ricos ganham o mesmo que o resto da população juntos. No entanto, a maior taxa de imposto de renda é de apenas 27,5%.
Os mercados não se importam muito com a desigualdade, mas as alegações prejudiciais do enxerto contra o presidente e seus aliados também ameaçam infligir novos danos às instituições do país.
Temer parece ser capaz de sobreviver a esta última crise – ele deverá ganhar um segundo voto na câmara baixa do congresso nesta semana sobre se deve suspendê-lo para um julgamento – mas a confiança nos líderes políticos do Brasil foi drasticamente minada.”
E, de fato, a visão do jornal britânico estava certa, Temer sobreviveu – no sentido literal e metafórico, posto que, supostamente, passou mal, foi internado, mas, não fora nada grave, e o Plenário da Câmara rejeitou denúncia contra ele por 251 a 233 votos. Foram 486 votantes e 25 ausentes.
A denúncia
No dia 14 de setembro, o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot apresentou ao STF a segunda denúncia contra o presidente Michel Temer. Em junho, Janot já havia denunciado o presidente pelo crime de corrupção passiva. Desta vez, Temer foi acusado de liderar uma organização criminosa desde maio de 2016 até 2017. De acordo com a denúncia, o presidente e outros membros do PMDB teriam praticado ações ilícitas em troca de propina, por meio da utilização de diversos órgãos públicos. Além de Temer, foram acusados de participar da organização os integrantes do chamado “PMDB da Câmara”: Eduardo Cunha, Henrique Alves, Geddel Vieira Lima, Rodrigo Rocha Loures, Eliseu Padilha e Moreira Franco. Todos os denunciados negam as acusações.
Com o resultado de hoje, o processo fica parado enquanto Michel Temer estiver no exercício do mandato de presidente da República, ou seja, até 31 de dezembro de 2018.