“E assim também um levita; quando chegou ao lugar e o viu, passou pelo outro lado.” (Lucas 10.32)
Quem é o meu próximo? Se o grande mandamento da fé cristã é o amor a Deus e ao próximo, precisamos saber quem é o nosso próximo. Especialmente nós que presumimos saber quem é Deus. Como sabemos sem é Deus e ignoramos quem é nosso próximo?! Ser discípulo de Jesus não é uma questão de apenas se conhecer o livro sagrado ou de saber dizer palavras adequadas sobre Deus. Ser seguidores de Jesus significa nutrir um caráter amoroso, uma escolha permanente pelo amor a Deus e ao próximo. Uma postura diante da vida que nos leva a buscar mudanças (Rm 12.1-2) e especialmente aquelas que dizem respeito ao modo como tratamos as pessoas, nossos relacionamentos. Incluindo nossa vida familiar, nossa vida religiosa e nossa cidadania. Seguir a Jesus tem a ver com estilo de vida e modo ser, tem a ver com o os valores que abraçamos, sendo que o amor deve ser o que orienta todos os demais.
Na parábola para explicar tudo isso ao perito da Lei, Jesus falou do levita. Como os sacerdotes, os levitas eram pessoas de dentro do templo, cuja vida e a religião se confundiam. Os levitas cuidavam dos diversos serviços do templo e em especial da música, das expressões de adoração. Teoricamente alguém de bom comportamento, mas o levita da parábola de Jesus aparece como um mau exemplo. Como uma contradição da espiritualidade que deveria manifestar. Não custa enfatizar que é possível a alguém ser intensamente envolvido e até se destacar nas atividades religiosas e ainda assim ser uma contradição da espiritualidade ensinada por Jesus. É possível ser reconhecido e considerado como “uma benção” aos olhos da plateia religiosa, atenta aos movimentos litúrgicos, apaixonada pela vida no templo e, ao mesmo tempo, ser uma negação do caráter e sentido da fé ensinada por Jesus.
Precisamos nos livrar dessa contradição. Precisamos ser cuidadosos para não fazer de nossa fé uma farsa aos olhos daquele que julga o espírito humano. Pois Jesus disse que não basta dizer “Senhor, Senhor” (Mt 7.21) e que muitos acabarão por saber que o fato de terem profetizado, expulsado demônios e feito milagres, tudo em nome de Jesus, jamais os tornou amigos de Jesus (Mt 7.22-23). Não é porque assistimos culto, cantamos, ensinamos na EBD e outras coisas semelhantes e características de nossa religiosidade, que temos sido seguidores fiéis de Jesus. Seus seguidores são pessoas que amam. Essa é a marca (Jo 13.35). Erramos quando fazemos de outras coisas o mais importante. E muitas vezes fazemos! Cuidamos zelosamente dos ritos e eventos, e nos descuidamos do amor que devemos ao próximo. Investimos horas e horas em coisas e muito pouco na prática de amar. Isso nos faz cegos para a verdade sobre a nossa fé. Precisamos perceber nossos equívocos e evitemos passar pelo outro. Que não seja o levita da parábola o retrato de nossa prática cristã!