Escrevo com janelas abertas. Todos dormindo. Ergui-me, fui até a janela, já é madrugadinha. Sobre o nascente, onde a barra do dia ainda é uma vaga esperança de luz, há nuvens leves, espalhadas em várias direções, como se durante a noite o vento tivesse dançando no ar.
Aqui no bairro da Graça eu ouvi o barulho do motor do caminhão de lixo. Imaginei o labor dos garis lá na rua, as mãos calosas pegando os sacos de lixo, as caras recebendo o vento da madrugada com o fedor do lixo. No meu apartamento, no silêncio, parece ainda haver um vago eco das vozes dos garis.
Apaguei as luzes, fiquei olhando o caminho de lixo seguir o seu caminho, e há um sossego após a sua partida. Pensei na vida destes garis que realizam um trabalho tão importante para a sociedade e ganham tão pouco, mas, Neste mundo cada qual carrega o seu deserto, seu calvário particular.
Voltando para casa, imersos em odores da cidade e eu costumava pensar neles apenas nas greves, quando a cidade virava um lixão a céu aberto, mas o pensamento virou para Recife, onde temos hoje oitenta e quatro morres das chuvas, e isso tudo afeta todo o nosso país e todos nós e não apenas as regiões de Recife.
Mas, agora eu pergunto a vocês: Quantas vezes isso vai se repetir até os políticos se conscientizarem e investirem em planejamento e drenagem urbanos? E que nossos garis durmam bem.
João Misael Tavares Lantyer
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