Quando vou fazer perícia, sempre levo uma maçã toda enroladinha para evitar a hipoglicemia. Basta estender a mão, pegar a maçã e cravar-lhe os dentes. Não há nenhum trabalho, nenhum segredo, apenas o prazer imediato, a libertação quase explosiva do gosto marcante, refrescante e azedo, mas assim mesmo também sempre doce da maçã na boca, capaz de enregelar os nervos e por vezes também levar os músculos do rosto a contrair-se, como se a distância entre o ser humano e a maçã tivesse a dimensão exata para que esse choque em miniatura jamais desapareça, não importa quantas maçãs uma pessoa já tenha comido na vida.
Quando eu era pequeno, comecei a comer as maçãs inteiras. Não apenas a polpa, mas também o miolo com todas as sementes e até mesmo a haste. Não porque fosse bom, acho eu, nem porque eu achasse que não podia desperdiçar aquilo, mas porque comer o miolo e a haste funcionavam como uma resistência ao prazer. Era como um trabalho, mesmo que em ordem inversa: primeiro a recompensa, depois o esforço. Já vi uma macieira, estava silenciosa no imenso jardim exceto por nossos passos, nossa respiração e o som ambiente da chuva fina salpicando as folhas. Eu achei belo os amarelos dourados do sol derramando sobre a Macieira.