“Cada coração conhece a sua própria amargura, e não há quem possa partilhar sua alegria.” (Provérbios 14.10)
Somos seres complexos e profundos, por mais simples que nos esforcemos para ser. Carregamos uma verdade, uma identidade, somos alguém muito especialmente singular. Não somos resultado de uma produção em série. Não somos cópia de ninguém mais. Mas, quem somos? Talvez todos tenhamos alguma dúvida ou a sensação de que não nos elucidamos completamente e ansiamos por isso. Não sermos nós mesmos é nossa mais grave fraqueza. O pecado, o jeito de viver e organizar a vida em contradição ao propósito de Deus, nos afeta, especialmente nessa questão. Há perdas para todos nós. Alguns perdem mais que outros, mas todos perdemos. Há quem nem saiba realmente do que gosta e desenvolve o vício de viver a vida de outros. Gostam que achem que devem gostar para que se pareçam com outra pessoa e não consigo mesmas.
O provérbio de hoje nos chama a atenção para isso, para esse lugar só nosso, que nos torna seres dotados de privacidade. Seres cuja alegria ou tristeza tem tons e sons próprios, muito nossos. Todos precisamos desse terreno privado, somente nosso, para desfrutarmos mais saúde. Todos precisamos de contato com esse lugar secreto, de ter a chave para impedir invasões e permitir acessos, segundo nossa vontade e escolha. E esse lugar muito nosso é essencial à nossa espiritualidade. Ele também é parte do complexo que chamamos coração. A vida com Deus nos convida a cuidar do nosso coração também sob a perspectiva de preservar nossa privacidade, tanto quanto desfrutar comunhão e proximidade. Não é saudável viver sob segredos que nos põem medo, mas também não é saudável não termos privacidade.
Deus, que tudo sabe e vê, respeita nossa interioridade, nossos lugares secretos, nossa privacidade. Por isso o Cristo do Apocalipse está à ponta e bate (Ap 3.20). Ele é a melhor companhia para visitarmos esses lugares, para lidar com nossas questões mais íntimas e pessoais. Precisamos de aceitação e Ele nos ama e aceita. Precisamos de compreensão e Ele nos compreende. Precisamos de valorização e Ele valoriza nossa história, cicatrizes, anseios, dúvidas e medos. Ele sabe como nos sentimos, bem lá no fundo da alma, no lugar secreto. Há quem diga que temos lugares em nós mesmos que jamais visitamos. Que fazemos de conta que não existem. Temos medo deles! Mas podemos pedir a Deus que segure nossa mão e vá conosco até lá. Ele sabe o que fazer e pode nos apaziguar conosco mesmos. Quem pode conhecer de fato nossas alegrais e tristezas? Ele pode. Ele se importa. Ele nos ama!