Liberdade e tolerância

“Mas quando o Espírito da verdade vier, ele os guiará a toda a verdade. Não falará de si mesmo; falará apenas o que ouvir, e lhes anunciará o que está por vir.” (João 16.13)

A história da religião tem diversas marcas. Muitas boas e muitas ruins. Pessoas buscando agradar a Deus podem fazer coisas antagônicas e, em nome de Deus, desde muito tempo, tanto se cura quanto se mata. Há quem tenha se apegado à fé devido à história que viveu com a religião e quem tenha dela se afastando, descrendo de Deus devido à incoerência de homens. As igrejas são cada vez mais diversas e, alguns ou muitas vezes, divergentes. Algumas são marcadas pela rigidez e outras pela flexibilidade. Cada uma achando que a outra foi demais para o outro lado. Não é possível caminhar em tudo isso sem equívocos, mas acredito que a tolerância e a liberdade são bem melhores que a intolerância e a rigidez. Talvez alguns entendam que há tolerância demais. Que seja. Mas ainda assim fico com esta opção. Acredito na presença e ação do Espírito Santo na vida humana. São Seus critérios, e não os humanos, que produzem vida.

A fé cristã não é a fé da imposição e do cerceamento da liberdade alheia. Não é por essa via que ela nos chama a manifestar o Reino de Deus. Ela também não é a fé que pretende reunir os melhores e descartar os piores. Nela não se vive do mérito próprio, mas dos méritos de Cristo, da Graça. Crer e formar comunidades de fé que honrem a Deus e manifestem Sua Graça não é formar comunidades fundamentadas em critérios para medir, julgar e classificar pessoas. Mas comunidades amorosas e acolhedoras, que incluem e não que diferenciam. Comunidades onde os mais maduros servem aos menos maduros. Onde, sem amor, nada tem valor, ainda que sejam línguas de anjos e homens, conhecimento e ciência, mistérios e sacrifícios (1Co 13). Comunidades em que pessoas podem ser elas mesmas enquanto são desafiadas a tornarem-se seres humanos segundo o coração de Deus. Onde cada um é livre para fazer escolhas e consciente do dever de honrar e submeter-se a Deus.

A rigidez e a intolerância na igreja jamais produzirão pessoas desse tipo. Ao contrário, formarão muitos hipócritas e cínicos. Levarão pessoas a usarem máscaras devido ao medo ou ao orgulho. Uma igreja marcada por rigidez e intolerância facilmente se tornará um ambiente desumano e artificial. Onde pretende-se entender muito de Deus e nada se entende de pessoas. Em que se pensa constantemente no céu e, ao mesmo tempo, ignora-se a realidade da vida na terra. Mas não precisa e nem deve ser assim. Deus nos amou e se humanizou em Jesus. Ele nos trouxe o Seu Reino e nos oferece vida plena (Jo 10.10) e liberdade (2 Co 3.17). Ele é o Espírito de Amor e nos guia em toda verdade. Ele é livre e não se revela ou age ao ser invocado, mas quando nos vê quebrantados. Algo que, definitivamente, não se alcança com dureza contra nós mesmo ou contra o irmão. Não tenhamos medo da liberdade e muito menos da tolerância. A falta delas é que é, de fato, prenúncio de que algo vai mal.

 

 

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